Quando uma gravação tem seis décadas de idade um ouvinte
pensa muitas coisas diferentes, é claramente algo especial. Art Farmer foi
alguém especial. Com um ou dois solavancos ao longo do caminho, virtualmente todos
- exceto talvez Art - também sabiam disso. Ele e seu irmão gêmeo, o baixista
Addison Farmer, iniciaram suas carreiras em Los Angeles nos anos 40, onde a
cena do bop na Central Avenue era especialmente vibrante e criativa. Como
se a imersão total não bastasse, Art e Addison migraram para trabalhar, estudar
e encontrar seu lugar no mundo em Nova York. Não demorou muito.
Art realizou consideráveis gravações com a Prestige,
especialmente com Gigi Gryce, antes desta gravação em 1958. Conforme as notas
do disco, escritas por Nat Hentoff, Farmer disse que ficou mais feliz com este,
porque teve total liberdade na escolha do pessoal, músicas e a abordagem. As
músicas foram uma mistura de inéditas (tal como Bb blues), uma agora clássica
("Stablemates" de Benny Golson), standards ("The Very
Thought of You", "By Myself" e "Too Late Now") e a avant-garde
"Nita" de George Russell. Farmer está reunido ao seu irmão Addison,
Roy Haynes na bateria e, fundamentalmente, a Hank Jones no piano. Jones, em
particular, é uma presença simpática, cutucando, sugerindo, concluindo ou
apenas pontuando. Ele nunca atrapalha, mas está sempre lá. Esta prensagem,
feita a partir das fitas originais de Bernie Grundman, tem o resultado muito feliz
de trazer Addison Farmer de uma forma que deixa claro por que Art estava tão
entusiasmado com ele. Não é apenas nepotismo. Addison tem uma pulsação forte e
um som completo que foi perdido em algumas edições anteriores, mas é ressonante
aqui. Esta parece ser uma virtude particular da série da Craft: trazendo
seções rítmicas de volta ao seu equilíbrio adequado, restaurando a dimensão que
estava simplesmente ausente. A prensagem é imaculada.
Tanta coisa poderia ser dita sobre Art Farmer. Não é verdade
que ele não era apreciado por ouvintes sofisticados, já que ele foi subestimado
pelo público em geral. Houve outros grandes instrumentistas ao redor, pessoas
como Clifford Brown ou Fats Navarro, que influenciaram Farmer, mas nunca recebeu
os louvores de um Miles Davis. Não é óbvio que isso tenha alguma importância
para Farmer, cuja busca pela beleza musical —"a nota perfeita" ele a
chamou— era realmente o que importava, uma busca para toda a vida, até o ponto
de chocar em um flumpet —um híbrido de flugelhorn-trompete inventado
pelo artesão de instrumentos David Monette— onde ele poderia explorar o
registro superior dos metais e ainda manter um som suave em uma idade em que a
maioria dos trompetistas pensava em evitar o estresse adicional no andar de
cima.
Esta busca pela beleza está evidente em todos os lugares de
“Portrait of Art Farmer”. Mesmo em 1958, Farmer, que poderia voar quando
queria, estava aparentemente se movendo em direção a um estilo introspectivo e
reflexivo, que realmente floresceu em suas gravações posteriores no flugelhorn.
Seu tempo, senso harmônico e fraseado, realmente, não mudaram ao longo dos anos.
Estas características, simplesmente, se aprofundaram. Pode -se ouvir no Art precoce
e no Art tardio, ou vice-versa. Esta excepcional gravação está de alguma
maneira no meio de uma longa jornada pessoal e musical. Há outras gravações que
poderiam, admiravelmente, apresentar o ouvinte a Art Farmer, mas certamente
nenhuma é melhor do que esta edição audiófila.
Faixas : Back
in the Cage; Stablemates; The Very Thought of You; And Now...; Nita; By Myself;
Too Late Now; Earth; The Folks Who Live On the Hill.
Músicos: Art
Farmer (flugelhorn); Hank Jones (piano); Addison Farmer (baixo); Roy Haynes
(bateria)
Fonte: Richard
J Salvucci (AllAboutJazz)
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