A música que este disco guarda tem um algumas partes
pré-definidas, mas o improviso é dominante e é através dele que fica é
especial. O diálogo entre ambos é espantoso: conseguem responder às ideias
parecendo nunca repetir a mesma estratégia (por exemplo tentando replicar a
ideia do outro), estar sempre a propor ideias lógicas, soluções adicionais. E
sempre com música bonita.
As partes pré-definidas parecem ser apenas esboços, ideias
sumárias sobre processos ou acontecimentos; um ponto de encontro que cria a
oportunidade para o salto. E se eles de fato saltam e mergulham no
desconhecido, a desenterrar pérolas como se estivessem nos mares do Pacífico do
Sul. O grande entendimento tem explicação: os dois músicos conhecem-se bem, tem
um passado. Estiveram juntos no quarteto Mazam. Convidam-se mutuamente com
ideias, desenvolvem-nas sem hierarquias, numa conversa intensa e equilibrada,
mas acima de tudo muito bonita. Mesmo com dois instrumentos apenas, o disco
atravessa vários estados de espírito, várias cores e diferentes ambientes.
Mortágua continua a impressionar pela sua fluência, rapidez
de pensamento, capacidade de articulação e por ter um sentido experimental.
Apesar de ter um enorme domínio do seu instrumento, não está confortavelmente
sentado na técnica estando, isso sim, mais preocupado em conseguir encontrar
música do que em demostrar as suas capacidades.
“Jump” são 14 temas curtos (alguns com menos de 1 minutos)
que resultam de uma sessão de gravação de uma hora em que conseguiram um foco e
uma entrega singulares. É a energia daquele dia, sem maquiagens nem photoshops,
tal como aconteceu, pela ordem que gravaram. É um testemunho da criatividade,
versatilidade e pensamento telepático do par. Que montanha-russa!
“Calcanhar” é um nome curioso pois a sensação de quem ouve é
que os dois músicos estiveram sempre em bicos dos pés, alternando rapidamente
os apoios, como se o chão estivesse escaldante (como aliás a capa do disco
sugere). “Jump” é acima de tudo uma memória de um caminho irrepetível, de um
salto para uma música que arrisca tudo porque só se consegue fazer, fazendo. É
um pulinho para o jazz português que se deve ouvir.
Faixas
1.EXORDIUM
04:20
2.DISRUPTION
01:19
3.UNDERCOVER
02:44
4.ROBUSTNESS
OF FINANCIAL SYSTEMS 03:57
5.A
SENSE OF TIMING 00:57
6.FOGGY
02:52
7.ELEMENTARY
EXERCISES 02:16
8.CIRCLE
02:45
9.ANOTHER
TIME 03:10
10.HAPPY
END 04:03
11.EASY
JOKE 03:00
12.DEVELOP
AWARENESS IN… 03:54
13.A
VITAL PIECE OF INFORMATION 02:46
14.PERPLEXED LOOK 01:57
Músicos: João Mortágua— saxofones alto e soprano; Carlos Azevedo— piano
Fonte: GONÇALO FALCÃO (jazz.pt)
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