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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

DOMEN CIZEJ – INTRODUCING (Clean Feed)

O primeiro CD é uma peça para um octeto de percussões com a duração de 26 minutos; é o melhor CD dos 5, com uma música viva, interessante, só feita com instrumentos de percussão. Os oito músicos são como um corpo coordenado em movimento. “É um ritual que convida a participar” (e de fato é, como ouvimos em Ljubljana)

O segundo CD, “Origins” apresenta o pianista com um trio clássico de piano, bateria e contrabaixo, mas virado do avesso. O piano vai pontuando a música, dando imenso espaço para a secção rítmica que ocupa quase todo o espaço sonoro enquanto o piano deixa cair de vez em quando uns farrapos de acordes. O contrabaixo e a bateria têm o papel principal e é bom de ouvir um baterista que usa os pratos e o bombo de uma forma muito original, com o tarol e os outros tambores a desempenharem um papel secundário.

“Sound”, o terceiro CD da caixa mostra o duo entre o piano de Filippo Deorsole e a bateria e percussões de Domen. Deorsole é um pianista muito curioso que vai buscar muito da sua linguagem em compositores contemporâneos, nomeadamente a Cage (usa o piano preparado com ramos e paus (neste caso a dívida é a Benoît Delbecq) e por isso a sua forma de tocar é igualmente muito aberta e abstrata, criando o mesmo tipo de relação entre a bateria e o piano que ouvimos no trio. Com esta abordagem o piano fica entre um instrumento de percussão muito cromático e um instrumento harmônico. Em 6 composições o duo apresenta uma música muito poética e imaterial. Um disco belíssimo.

O quarto CD “Discovery” é solo. São 13 peças de descoberta da bateria e dos instrumentos de percussão, com uma exploração dos sons e de todas as possibilidades dos instrumentos (incluindo dos microfones). O uso da voz humana é explorado na articulação com as baterias.

É mais um CD que se ouve no limiar do jazz e da música contemporânea escrita (lembramo-nos de “Mikrophonie” de Karlheinz Stockhausen” e de “Persephassa” de Iannis Xenakis) bem como dos compositores que valorizam tanto as notas como o espaço entre as notas (Morton Feldman, Giacinto Scelsi). É mais um disco muito bom de ouvir e com uma abordagem ao jazz particular.

Para fechar esta “opus Magnum” de estreia temos o quinto CD “Poetry” com um regresso ao formato de trio, mas com outra formação com Hendrik Lasure no piano e Soet Kempeneer no contrabaixo. Dois músicos da mesma geração, igualmente novos, com um caminho enorme pela frente. Lasure é quem mais encanta, com um piano belíssimo, também numa procura de uma ideia de pureza e dos elementos capitais, que o percussionista define como um regresso à infância e à descoberta de todas as possibilidades de um parque infantil, sem restrições ou preconceitos, mergulhando no infinito da imaginação.

O trio está musicalmente coeso, procurando expandir os limites dentro de uma abordagem tradicionalista.

“Introducing” é uma estreia grande, corajosa e explosiva. A música de Cizej é arriscada e tem características individuais, com um grande respeito pelo que é tocado e pelo espaço em volta de cada som. Feito com músicos muito novos, mostra uma maturidade e uma cultura musical ultracontemporânea (não só de jazz mas também de música contemporânea) questiona temas recorrentes da história do jazz - das influências à ideia de percurso. Oferece música para quem procura ser surpreendido e o prazer de decifrar emocionantes enigmas sonoros.

Fonte: GONÇALO FALCÃO (jazz.pt)

 

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