O primeiro CD é uma peça para um octeto de percussões com a
duração de 26 minutos; é o melhor CD dos 5, com uma música viva, interessante,
só feita com instrumentos de percussão. Os oito músicos são como um corpo
coordenado em movimento. “É um ritual que convida a participar” (e de fato é,
como ouvimos em Ljubljana)
O segundo CD, “Origins” apresenta o pianista com um trio
clássico de piano, bateria e contrabaixo, mas virado do avesso. O piano vai
pontuando a música, dando imenso espaço para a secção rítmica que ocupa quase
todo o espaço sonoro enquanto o piano deixa cair de vez em quando uns farrapos
de acordes. O contrabaixo e a bateria têm o papel principal e é bom de ouvir um
baterista que usa os pratos e o bombo de uma forma muito original, com o tarol
e os outros tambores a desempenharem um papel secundário.
“Sound”, o terceiro CD da caixa mostra o duo entre o piano
de Filippo Deorsole e a bateria e percussões de Domen. Deorsole é um pianista
muito curioso que vai buscar muito da sua linguagem em compositores
contemporâneos, nomeadamente a Cage (usa o piano preparado com ramos e paus
(neste caso a dívida é a Benoît Delbecq) e por isso a sua forma de tocar é
igualmente muito aberta e abstrata, criando o mesmo tipo de relação entre a
bateria e o piano que ouvimos no trio. Com esta abordagem o piano fica entre um
instrumento de percussão muito cromático e um instrumento harmônico. Em 6
composições o duo apresenta uma música muito poética e imaterial. Um disco
belíssimo.
O quarto CD “Discovery” é solo. São 13 peças de descoberta da
bateria e dos instrumentos de percussão, com uma exploração dos sons e de todas
as possibilidades dos instrumentos (incluindo dos microfones). O uso da voz
humana é explorado na articulação com as baterias.
É mais um CD que se ouve no limiar do jazz e da música
contemporânea escrita (lembramo-nos de “Mikrophonie” de Karlheinz Stockhausen”
e de “Persephassa” de Iannis Xenakis) bem como dos compositores que valorizam
tanto as notas como o espaço entre as notas (Morton Feldman, Giacinto Scelsi).
É mais um disco muito bom de ouvir e com uma abordagem ao jazz particular.
Para fechar esta “opus Magnum” de estreia temos o quinto CD
“Poetry” com um regresso ao formato de trio, mas com outra formação com Hendrik
Lasure no piano e Soet Kempeneer no contrabaixo. Dois músicos da mesma geração,
igualmente novos, com um caminho enorme pela frente. Lasure é quem mais
encanta, com um piano belíssimo, também numa procura de uma ideia de pureza e
dos elementos capitais, que o percussionista define como um regresso à infância
e à descoberta de todas as possibilidades de um parque infantil, sem restrições
ou preconceitos, mergulhando no infinito da imaginação.
O trio está musicalmente coeso, procurando expandir os
limites dentro de uma abordagem tradicionalista.
“Introducing” é uma estreia grande, corajosa e explosiva. A
música de Cizej é arriscada e tem características individuais, com um grande
respeito pelo que é tocado e pelo espaço em volta de cada som. Feito com
músicos muito novos, mostra uma maturidade e uma cultura musical
ultracontemporânea (não só de jazz mas também de música contemporânea)
questiona temas recorrentes da história do jazz - das influências à ideia de
percurso. Oferece música para quem procura ser surpreendido e o prazer de
decifrar emocionantes enigmas sonoros.
Fonte: GONÇALO FALCÃO (jazz.pt)
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