Nilssen encontrou um lugar ainda inabitado entre a ideia
clássica (Ellington a Russel) e os modelos mais livres (AACM ou a The London
Improvisers Orchestra). É verdade que entre estes dois polos já muitas
orquestras ensaiaram, até usando os dois extremos (ex: Willem Breuker
Kollektief, Exploding Star) mas a Supersonic Orquestra é um processo diferente.
E é curioso verificar que, tendo sido criada por um baterista, o segredo da
nova receita parece estar precisamente na secção rítmica (o que nos leva a
pensar na Liberation Orquestra de Charlie Haden que se aproxima da Supersonic).
Comecemos pela formação: 16 músicos e um técnico de som
(fundamental!) com 3 baterias, 3 contrabaixos, 7 saxofones, 2 trompetes e um
trombone. Todos são líderes dos seus próprios projetos, têm uma personalidade
musical própria e são excelentes instrumentistas e solistas. Quase todos são
famosos pelos seus projetos próprios: Ole Morten Vågan (diretor artístico da
The Trondheim Jazz Orchestra, etc.), Ingebrigt Håker Flaten (Atomic, The Young
Mothers, Krokofant, etc.), Håkon Mjåset Johansen (Motif, Solid, etc.), Hans
Hulbækmo (Moskus, Atomic, etc.), Petter Eldh (Koma Saxo, etc.), Eirik Hegdal
(Team Hegdal, etc.), Per ”Texas” Johansson (em nome próprio, etc.), Kjetil
Møster (Møster, etc.), Hanna Paulsberg (Hanna Paulsberg Concept, etc.), Mette
Rasmussen (Trio Riot, etc.), Maciej Obara (Maciej Obara Quartett, Inne
Projekty, etc.), André Roligheten (Friends And Neighbours, André Roligheten
Radio, etc.), Thomas Johansson (Cortex, All Included,etc.), Goran Kajfes (Into
The Wild, etc.), Erik Johannessen (Jaga Jazzist, em nome próprio, etc.)... Como
gerir isto? Como fazer com que 16 autores trabalhem num só texto?
A fórmula de Nilssen é simples e por isso mesmo tão
atraente: as pautas da Supersonic não são particularmente complexas. São canções
suficientemente complicadas para interessar um músico de jazz, mas
razoavelmente simples para que as possa interiorizar com facilidade e sentir-se
livre quando as tocam. A este truque soma-se o repensar do “motor” da
orquestra: normalmente, numa orquestra, o papel de manter o trem (para usar uma
expressão de Count Basie) em movimento é função do baterista e do
contrabaixista. Na Supersonic não. Toda a gente tem que “keep the train going”.
Os metais estão sempre todos em campo e em atividade, por vezes criando
segundas vozes, outras dando a linha melódica principal. Por isso a tarefa de
“manter o trem em movimento” é tanto dos três bateristas e contrabaixistas como
dos 7 saxofones.
E como é que um grupo de músicos solistas aproveitam esta
oportunidade lançada pelo compositor e, sem se atropelarem, estão todos na
frente, a manter a coisa em andamento? O último tema do disco “Bitta Bort Kua
Fikk Fela Igjen”, (uma frase que aparece numa canção popular de Per Spelmann e
que quer dizer que trocou a vaca para poder receber de volta o seu violino)
dá-nos a solução. Começa com um solo das três baterias em que não há atropelos.
São de fato três baterias a tocar mas não se repetem e não se sobrepõem. É
interessante ver como a Supersonic consegue usar tantos instrumentos da mesma
família, mantendo a música interessante, sem os amontoar ou repetir e sem que
se acotovelem uns aos outros pelo mesmo espaço. Uma fórmula mágica que requer
controle e músicos atentos.
Ao vivo tocam muito juntos para todos se ouvirem e esse sentimento coletivo, de uma grande massa sonora melódica, alegre e expansiva aparece nas músicas claramente. A Supersonic orquestra é, como o nome indica super e sónica. Canções simples, bonitas, tocadas com força e por um exército nórdico, relativamente organizado, relativamente livre e impulsivo. É um prazer ouvi-la.
Faixas:
1.Premium
Processing Fee 10:20
2.Bøtteknott
Elastic Circle 13:12
3.Teppen
Dance 11:02
4.The
City Of Roses 09:03
5.Jack
07:56
6.Bytta
Bort Kua Fikk Fela Igjen 13:52
Músicos: Gard Nilssen— bateria, composição; Håkon Mjåset Johansen— bateria; Hans Hulbækmo— bateria; Petter Eldh— contrabaixo; Ole Morten Vågan— contrabaixo; Ingebrigt Håker Flaten— contrabaixo; Eirik Hegdal— saxofones; Per ”Texas” Johansson— saxofones; Kjetil Møster— saxofones; Hanna Paulsberg— saxofones; Mette Rasmussen— saxofones; Maciej Obara— saxofones; André Roligheten— saxofones; Thomas Johansson— trompete; Goran Kajfes— trompete; Erik Johannessen— trombone; Tor Breivik— engenheiro de som
Fonte: GONÇALO FALCÃO (jazz.pt)
Nenhum comentário:
Postar um comentário