Quando uma banda de quatro líderes por direito próprio ainda
existe mais de dez anos após a sua criação, então algo que vale a pena está em
andamento. “Illegal Crowns” compreende o familiar triunvirato estadunidense
formado pela guitarrista Mary Halvorson, pelo cornetista Taylor Ho Bynum e pelo
baterista Tomas Fujiwara, que primeiro cruzou o caminho com o pianista francês Benoit
Delbecq em 2012. O terceiro álbum deles, “Unclosing”, segue-se a uma estreia
homônima (Rogue Art 2016) e ao segundo lançamento, “No-Nosed Puppet (Rogue Art,
2020)”. Uma mistura bem-sucedida de acessibilidade e experimentalismo, que
distinguiu os discos, e está uma vez mais em evidência, talvez melhor integrado
do que nunca.
Um ethos (NT: é o conjunto de traços e modos de comportamento que conformam
o caráter ou a identidade de uma coletividade) coletivo se manifesta em
três melodias da pena de cada instrumentista, exceto Bynum. Porém, quem quer
que seja o autor, há um terreno comum que encontra a aventura envolta em um
verniz de melodias fortes e ritmo contagiante. Na ausência de um baixista,
Halvorson e Delbecq compartilham tarefas estruturais, revezando-se como âncora,
riff (NT: é uma progressão de acordes, intervalos ou
notas musicais, que são repetidas no contexto de uma música, formando a base ou
acompanhamento) e vamp (NT: é um padrão de
harmonia que caracteriza algum modo em particular de enfatizar sua sonoridade).
Bynum oferece um lirismo amarrotado e desgastado, adequado aos refrões e muitas
vezes cadenciados, que adornam as nove peças. Claro, todos os três se mostram
solistas estelares. Embora não haja apresentações individuais para Fujiwara,
sua combinação de graça e força permeia todo o programa.
Embora os momentos solos sejam habilmente entrelaçados no
tecido composicional, cada instrumentista aproveita suas oportunidades quando
elas surgem. Em particular, as preparações do piano de Delbecq, que evocam
comparações tão diversas quanto a música pigmeia da África Central e o gamelão
do Sudeste Asiático, dando à banda um sabor distinto. Eles aparecem ao lado do
FX percussivo de Halvorson para suportar a sensação de canção de ninar da
faixa-título, para apresentar a bucólica-vira-tempestade "Fading
Wave" e em uma pulsação irregular em conjunto com Fujiwara no início de
"Freud And Jung Go Cycling".
Cada corte, a partir dos planos de intersecção da abertura "Crooked
Frame" e as colisões arrojadas de "Triple Fever" ao
embaralhamento de despedida da faixa final, "Soul Of The Grey", desafia
as expectativas com reviravoltas imprevisíveis que mantêm o ouvinte envolvido e
ao mesmo tempo entretido. Não
se pode pedir mais do que isso.
Faixas: Crooked
Frame; Unclosing; Triple Fever; Fading Wave; Osmosis Crown; Freud and Jung Go
Cycling; G. Ocean; Les Mots et les Choses; Soul of the Grey.
Músicos: Tomas Fujiwara (bateria); Taylor Ho Bynum (cornet,
flugelhorn); Mary Halvorson (guitarra); Benoit Delbecq (piano);
Fonte: John
Sharpe (AllAboutJazz)
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