É preciso uma certa coragem para passar por cima da capa
deste disco e dar-lhe credibilidade. Ultrapassado o engulho visual, a música é
uma boa surpresa. Nem sempre o visual e o sonoro estão alinhados.
Nite Bjuti é um trio americano feminino e o nome do disco de
estreia (Nite Bjuti é um patuá novaiorquino para “Night Beauty”) que fixa em
disco o melhor de três noites de improvisações, entre vozes, linhas de baixo
positivas, samplagens e eletrônicas várias. O trio nasceu em 2018 depois de
Candice Hoyes (voz, falas, processamento) ter tocado num concerto de
Afrofuturismo no “Jazz At The Lincoln Center” (onde é conferencista). Convidou
Val Jeanty (que se define como química de sons, percussões, bateria, eletrônica
e professora em Berklee), para uma experiência em duo que revelou uma excelente
química musical entre as duas; o que as levou para estúdio convidando Mimi
Jones (baixista, voz e eletrônica [e colega de Jeanty em Berklee]) para fechar
o grupo.
Nite Bjuti procura um ponto de vista inovador para o jazz
com eletrônica, onde a palavra - histórias para o futuro – tem um papel
importante, os baixos são marcantes e vêm do dub. Cíclicos, profundos. A eletrônica
é usada com saber. O que é dito/cantado é interessante.
O disco abre com “Mood” uma meditação sobre a ideia de
liberdade. “Illustrious Negro Dead” é a reafirmação do pedido feito em 1945 por
Zora Neale Hurston a W.E.B. DuBois (Na altura diretor da American Negro
Artists) em que ela pede que seja criado um cemitério para os negros ilustres
(“Something like Pere la Chaise in Paris”). O disco fecha com “Singing Bones”
uma peça da tradição haitiana em que uma jovem mulher morta pela família
regressa para reencarnar nos seus ossos.
“Nite Bjeauty” é uma música ensopada pela tradição mágica
das ilhas do pacífico, do Vodoo, resultando numa música escura, tensa, em que
vozes, ritmos e baixos têm um peso histórico e uma lógica ritualista.
Alimentam-se de arquivos, da história afro-americana, e trabalham temas como a
expressão da sexualidade, a liberdade reprodutiva, a dignidade política numa
tentativa de expandir as narrativas das mulheres negras. “Everyone. Speak Up. For Everyone” ouve-se em
“Speach And Silence” (#7)
Entre eletrônica desfocada, dub, palavra falada (na tradição
do jazz político), ritmos ritualistas (e arritmias), o trio lança um disco com
novidade musical, risco e um equilíbrio muito bem construído entre jazz, eletrônica
e ritualidade.
Faixas
1.Mood
(Liberation Walk) 04:02 video
2.Stolen
Voice 05:32
3.Airy
Thoughts 00:18
4.Illustrious
Negro Dead 04:07
5.The
Window 04:23
6.Witchez
07:12
7.Speech
and Silence 05:24
8.Soursop
02:16
9.Echo
Stolen 00:43
10.Silk
Asteroids 00:57
11.Singing Bones 01:52
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