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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

NITE BJUTI - NITE BJUTI (Whirlwind Recordings)

É preciso uma certa coragem para passar por cima da capa deste disco e dar-lhe credibilidade. Ultrapassado o engulho visual, a música é uma boa surpresa. Nem sempre o visual e o sonoro estão alinhados.

Nite Bjuti é um trio americano feminino e o nome do disco de estreia (Nite Bjuti é um patuá novaiorquino para “Night Beauty”) que fixa em disco o melhor de três noites de improvisações, entre vozes, linhas de baixo positivas, samplagens e eletrônicas várias. O trio nasceu em 2018 depois de Candice Hoyes (voz, falas, processamento) ter tocado num concerto de Afrofuturismo no “Jazz At The Lincoln Center” (onde é conferencista). Convidou Val Jeanty (que se define como química de sons, percussões, bateria, eletrônica e professora em Berklee), para uma experiência em duo que revelou uma excelente química musical entre as duas; o que as levou para estúdio convidando Mimi Jones (baixista, voz e eletrônica [e colega de Jeanty em Berklee]) para fechar o grupo.

Nite Bjuti procura um ponto de vista inovador para o jazz com eletrônica, onde a palavra - histórias para o futuro – tem um papel importante, os baixos são marcantes e vêm do dub. Cíclicos, profundos. A eletrônica é usada com saber. O que é dito/cantado é interessante.

O disco abre com “Mood” uma meditação sobre a ideia de liberdade. “Illustrious Negro Dead” é a reafirmação do pedido feito em 1945 por Zora Neale Hurston a W.E.B. DuBois (Na altura diretor da American Negro Artists) em que ela pede que seja criado um cemitério para os negros ilustres (“Something like Pere la Chaise in Paris”). O disco fecha com “Singing Bones” uma peça da tradição haitiana em que uma jovem mulher morta pela família regressa para reencarnar nos seus ossos.

“Nite Bjeauty” é uma música ensopada pela tradição mágica das ilhas do pacífico, do Vodoo, resultando numa música escura, tensa, em que vozes, ritmos e baixos têm um peso histórico e uma lógica ritualista. Alimentam-se de arquivos, da história afro-americana, e trabalham temas como a expressão da sexualidade, a liberdade reprodutiva, a dignidade política numa tentativa de expandir as narrativas das mulheres negras. “Everyone. Speak Up. For Everyone” ouve-se em “Speach And Silence” (#7)

Entre eletrônica desfocada, dub, palavra falada (na tradição do jazz político), ritmos ritualistas (e arritmias), o trio lança um disco com novidade musical, risco e um equilíbrio muito bem construído entre jazz, eletrônica e ritualidade.

Faixas  

1.Mood (Liberation Walk) 04:02 video

2.Stolen Voice 05:32

3.Airy Thoughts 00:18

4.Illustrious Negro Dead 04:07

5.The Window 04:23

6.Witchez 07:12

7.Speech and Silence 05:24

8.Soursop 02:16

9.Echo Stolen 00:43

10.Silk Asteroids 00:57

11.Singing Bones 01:52

 Músicos: Candice Hoyes - vocal, pedais; Val Jeanty - percussão, bateria, eletrônica, pedais; Mimi Jones - baixo, vocal, pedais

 Fonte: GONÇALO FALCÃO (jazz.pt)

 

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