Em Julho de 2021, o chileno, compositor e pianista,
residente na Itália, Antonio Flinta, realizou uma gravação no estúdio próximo a
Florença para seu primeiro álbum de piano solo. Espontaneidade e frescor da expressão
foram os objetivos. Em duas horas, ele apresentou vinte peças—improvisações, reinterpretações
e inéditas. O resultado inicial deste trabalho foi uma produção independente, “Secrets
of a Kiri Tree (2022), um dos trabalhos mais finos daquele ano.
Porém, houve música que não fez o corte. Independentemente
da razão, não houve ausência de qualidade, acessibilidade ou beleza. Realmente,
a música em “Peripheral Songs”, selecionada da mesma sessão de gravação, que
resultou em “Songs Of A Kiri Tree”, é como um fluxo livre, moderno e adoravel
como os sons oferecidos em seu antecessor, iniciando com "Improvisation
#1", a primeira coisa que Flinta tocou naquele dia em que ele se acomodou
ao piano e compôs a melodia de uma só vez, sem edição, sem refazer. E, para
parafrasear o autor Kurt Vonnegut, "Então foi".
Se foi absolutamente necessário começar as coisas com uma
peça improvisada—Flinta diz assim, e pode se acreditar, dada a qualidade e
coesão de “Peripheral Songs” —foi também necessário tocar algo familiar,
"I Loves You Porgy" de George Gershwin Inspirada pela tomada de Bill
Evans para a canção, Flinta manteve as coisas atadas com a relativa
simplicidade da melodia— alguém já escreveu um mais bonito? — com sua profunda ruminação
neste clássico duradouro e na espontaneidade da peça. O YouTube dispõe de vídeos
de pianistas tocando em aeroportos. Não há indicação de que Flinta esteja entre
eles, mas o considere vagando por um, solitário, saindo da multidão, sentando e
apresentando seu improviso em música belamente orgânica em um dos lugares mais
artificiais do planeta—tudo de aço e vidro e ângulos acentuados, pisos polidos
em diferentes dimensões. Isto poderia, seguramente, parar os viajantes ansiosos
em suas pistas e fazê-los colocar de lado seus telefones celulares conforme Flinta
os transporta de uma experiência profana com uma recuperação de Gershwin.
"Cycles And Rhymes" (ou haicais, cigarras, cometas
e estações, sabendo ou não, todos nós rimamos), uma inédita de Flinta, é solene
e celebratória.
"Crystal Silence" de Chick Corea encerra o
trabalho com uma vibração de majestosa introspecção, soando como uma pesquisa
de uma verdade profunda, de acordo com tudo do disco que o precedeu.
Faixas: Improvisation
#1; Cycles and Rhymes; I Loves You Porgy; A Tree A Star; Let All Be Thanks;
Tilsa; Crystal Silence.
Fonte: Dan
McClenaghan (AllAboutJazz)
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