1949 foi um ano de mudança massiva de Miles Davis, e não de
uma boa maneira. Começou, em Janeiro, com ele frente à primeira das sessões de
gravação, feito com um noneto, que veio a ser genericamente conhecido como “The
Birth Of The Cool” e que, se ele não tivesse conseguido mais nada de nota, lhe
teria assegurado um lugar permanente na história do jazz. Encerrou com ele
amarrado à heroína, um vício que inverteu a sua ascensão e que demorou quatro
anos para ser superado. O ponto no qual a trajetória Davis girou foi no início
do verão em que ele atuou no concerto no Salle Pleyel Hall in Paris e seu
imediato resultado. Sobre o qual, veremos mais daqui a pouco.
Algumas das performances de Davis em Paris foram
transmitidas pela rádio francesa e estas formam a maior parte de “Miles Davis
With Tadd Dameron Revisited”, que é subintitulada “Live 1949 At The Royal Roost
NYC & In Paris At Festival International De Jazz”. O álbum reúne seis
faixas gravadas no Roost em Fevereiro e nove em Salle Pleyel em
Maio. Em Nova York, Davis coliderado pela Big Ten de Tadd Dameron, em
Paris o Miles Davis/Tadd Dameron Quintet. Kenny Clarke foi o baterista nos dois
trabalhos, fora isto, os instrumentistas diferem (detalhes abaixo).
As sessões de noneto, que tinham sido precedidas de tomadas
do mesmo material de Roost em Setembro de 1948, não criaram um impacto
instantâneo na audiência de jazz de Nova York, realmente, ruídos no ar sugerem
que alguns participantes do Roost estiveram seriamente desiludidos, mas
foram sucesso entre os músicos. Pela primeira vez, Davis saiu da sua percepção
como "apenas" um acompanhante de Charlie Parker e o estabeleceu-se
como um líder em sua própria forma.
A autoconfiança de Davis, nunca ausente, deve ter sido ainda
mais impulsionada. Certamente, na altura em que chegou a Paris em Maio de 1949,
fez soar as trombetas. Suas performances no Salle Pleyel e atuações nos
clubes de jazz parisienses, foram amplamente aclamados e ele fez festa onde
quer que fosse. Ele teve um caso apaixonado com a atriz Juliette Greco e passava
a tarde no café da Left Bank com ela e seu amigo, o filósofo existencialista Jean-Paul
Sartre, duas grandes mega estrelas intelectuais e culturais da França. As
faixas do Salle Pleyel em “Miles Davis With Tadd Dameron Revisited”, feito
entre 8 e 15 de Maio, refletem tudo isto. Davis soa supremamente no topo do
jogo, sua ampla entonação aberta e extrovertida, seu ataque agressivo. Ele
frequentemente sai da sua posição padrão no meio do registro do trompete e vai os
seus registros superiores. E ele toca furiosamente rápido. Este é Davis no seu
auge do período inicial.
Porém, a viagem a Paris foi bastante breve e Davis desceu
com um abalo assim que voltou para Nova York. Trabalhos eram duros de ser
encontrados e ele era uma vez mais um homem negro em uma arte subavaliada na
sociedade dominada por pessoas brancas. Heroína estava em todos os lugares e Davis
recorreu a ele para consolo.
As faixas em “Miles Davis With Tadd Dameron Revisited”
formas todas lançadas anteriormente, mas a qualidade do áudio é a melhor já
obtida, algo para a qual a Ezz-thetics utilizou a sonoridade do
restaurador do selo e rei da masterização, Michael Brändli, merece uma saudação.
Os ares de Nova York são em grande parte irredimíveis, mas aqueles de Paris são
mais importantes e com eles Brändli teceu a sua magia habitual.
Faixas : At
The Royal Roost : Good Bait; Focus; April In Paris; Webb’s Delight; Milano, Casbah.
In Paris: Rifftide; Good Bait; Don’t Blame Me; Wha Hoo; Allen’s Alley;
Embraceable You; Ornithology; All The Things You Are.
Músicos Miles Davis: trompete; Tadd Dameron: piano;
Kai Winding: trombone; Benjamin Lundy: saxofone tenor; James Moody: palhetas;
Sahib Shihab: palhetas; Cecil Payne: saxofone barítono; John Collins: guitarra
elétrica; Curly Russell: baixo acústico; Barney Spieler: baixo acústico; Kenny
Clarke: bateria; Carlos Vidal: congas.
Instrumentação
adicional At The Royal Roost: Miles Davis: trompete; Kai Winding:
trombone; Benjamin Lundy: saxofone tenor; Sahib Shihab: saxofone alto; Cecil
Payne: saxofone barítono; John Collins, guitarra; Tadd Dameron: piano; Curly
Russell: baixo; Kenny Clarke: bateria; Carlos Vidal, conga. In Paris: Miles
Davis, trompete; James Moody, saxofone tenor; Tadd Dameron, piano; Barney
Spieler, baixo; Kenny Clarke, bateria.
Fonte: Chris May (AllAboutJazz)
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