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sábado, 20 de abril de 2024

CARLOS PENINHA - TUDO COMEÇA AGORA

A qualidade das produções musicais nem sempre é acompanhada do mediatismo que lhes seria merecido. Exigido, até. Felizmente, apesar do pouco mediatismo que lhes é dedicado, não significa que as obras e os artistas que as criam e lhes dão corpo - compositores, intérpretes, produtores, técnicos - não sejam merecedores de reconhecimento e respeito por quem com elas contata e as sabe ouvir. Apreciar, no verdadeiro sentido do conceito.

É este o caso de Carlos Peninha: um músico completo, pleno; compositor e guitarrista (aliás, multi-instrumentista) com um conhecimento vastíssimo que domina tecnicamente em qualquer corrente estética e sempre com excelentes recursos musicais que se adaptam e enriquecem (o tal “bom gosto”, sofisticado e sem imposições, com segurança e discrição: da música de raiz tradicional popular à música improvisada).

Todavia, não será forçado dizer que Carlos Peninha é habitante dos territórios do jazz, com influências de outras estéticas, ali no estado jazz fusão. Mas jazz. Jazz a sério e sério. É isso que nos proporciona uma vez mais no seu último álbum: “Tudo começa agora”. Este quarto trabalho de Carlos Peninha foi lançado em setembro de 2023, está disponível em CD e nas plataformas digitais, e apresenta 10 composições de sua autoria e orquestrações de cordas assinadas por Manuel Maio, que também integra o trio de cordas e colaborou na produção artística juntamente com Miguel Ângelo.

Em “Tudo começa agora” estamos perante uma obra musical de excelência, desde logo - música jazz que não fica minimamente atrás do que internacionalmente se tem produzido. Não farei comparações com outras obras ou outros artistas porque seria simplista, redutor e até questionável. Sabe-se que é da natureza humana associar o que se ouve ao que já se conhece, a esse universo musical pessoal que cada indivíduo foi construindo. Seria indutor e injusto, uma vez que Carlos Peninha tem, mais uma vez neste álbum, a sua assinatura, identificável e inconfundível.

O álbum desenvolve-se como uma suíte de 10 temas belos, alguns arrojados, com passagens complexas e belas, bem estruturados e fluidos, sem excessos, exibicionismos ou ostentações. Peninha arrisca na fusão tímbrica com frases em uníssono onde entram violino, viola d’arco e violoncelo. A este respeito julgo que as orquestrações de Manuel Maio, também elas com passagens arrojadas e de muito bom gosto, estão muito bem construídas, bem definidas na intenção interpretativa, nos efeitos tímbricos e nos registros, para além da seleção dos recursos e das ideias que vieram acrescentar qualidade musical e valor estéticos à obra.

Para apreciar este trabalho é preciso ter a sabedoria de ouvir e sentir com o espírito. Se for ouvido com as orelhas primárias da razão, então, são exigidos recursos técnicos, musicológicos, que permitam uma avaliação séria e rigorosa. É que, é cada vez mais difícil alcançar um espaço dentro de uma música assumidamente tonal, melódica e, ainda assim, fazer novo e bom. Como faz Peninha. Uma música que soa simples e que está muitíssimo longe de ser simplista. Antes pelo contrário: afinal, estamos perante um álbum cuja música possui grande complexidade: harmônica, melódica, na própria estrutura e na organização dos temas, nas ambiências, mas também na dificuldade na execução e na interpretação.

Para além da composição e das orquestrações é crucial reconhecer a importância (óbvia) da banda, que está perfeitamente enquadrada e coesa, segura. Cada um dos músicos revela dominar o instrumento, a estética e, acima de tudo, a linguagem do compositor Carlos Peninha. E este aspeto é fulcral para a qualidade constatável no álbum.

Além da composição e da direção geral do trabalho, Carlos Peninha apresenta-se na guitarra elétrica. Nos saxofones, Rodrigo Neves; na flauta transversal, Luísa Vieira; Miguel Ângelo no contrabaixo; Leandro Leonet na bateria; Manuel Maio no violino; Vincent Brunel viola d’arco e Ángel González no violoncelo. A edição gráfica e a ilustração são assinadas por Mariana Marques e a fotografia é de Luís Rito.

“Tudo começa agora”… mas só para quem ainda não conhecia a música de Carlos Peninha.

Faixas

1.Tudo começa agora 07:17

2.Coral 06:08

3.Janela do mundo 04:31

4.Enquanto a chuva não vem 01:27

5.Quase 04:18

6.Incerto 03:27

7.Sul 06:00

8.Horizonte de fogo 06:19

9.Pequenas coisas 03:05

10.Semear Abril 07:06

 Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=bvWaCz6f1tU

Fonte: HÉLDER BRUNO MARTINS (jazz.pt)

 

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