Há já algum
tempo que o saxofonista Emile Parisien vem fazendo barulho na cena jazzística
francesa – tão alto que ressoa na Europa e no mundo. O seu último disco, “Let
Them Cook”, gravado com Julien Touéry (piano), Ivan Gélugne (contrabaixo) e
Julien Loutelier (bateria), celebra dez anos de ligação com a prolífica editora
alemã ACT Music, é uma vívida exposição do quão vasto é o mundo do jazz
contemporâneo.
A faixa que
abre o disco, “Pralin”, introduz o ouvinte a um ambiente vago, abstrato, que
garante uma pequena linearidade por melodias tenras, mas sombrias, do saxofone
de Parisien. O meio é delineado de maneira essencialmente dispersiva, pela
inconclusividade das melodias e pela espacialização da percussão que ressoa
– como que num convite à incerteza. De início, é possível perceber uma espécie
de trajeto à ação que caracteriza o disco até a faixa “Coconut Race”. Após
uma transubstanciação exposta nos entremeios, na segunda faixa, “Nano
Fromage”, o ambiente explode numa profusão veloz pelo quarteto, não
permitindo mais espaço ou tempo à dúvida. Está agora tudo perfeitamente
amarrado, e a impressão dá-se de maneira imediata e caótica – mas sem perder
o discernimento, visto que há, e é audível, nos músicos, um compromisso com
a transmissão integral de um conteúdo musical que precisa ser expresso,
condensado na cadência de Parisien. À comunhão, após uma melodia dobrada
pelo saxofone e pelo piano, opõe-se à a solidão. Ainda assim, o saxofone
feroz de Parisien não para, mesmo que todos o deixem sozinho, ermo. Percebendo-se
como tal, acalma-se, mas apenas para ser novamente acompanhado, agora com uma
seção rítmica muito concreta e estável. A um primeiro momento aéreo,
opõe-se agora o chão sólido.
Mas o disco
não é simplesmente uma série de movimentos de progresso linear e ou de mero
desenvolvimento. A própria faixa imediatamente seguinte, “Ve 1999”, propõe um
amplo diálogo, com sintetizadores de espacialização ao lado de uma rígida
bateria estática, com melodias rápidas da dupla piano e saxofone; “Wine Time,
Pt. 2” opõe divagações melódicas tonais a baterias marciais num ambiente
difuso que se engrandece até à dissolução; “Loin Du Phare”, tema bônus que
fecha o disco, começa de maneira quase assustadora, com um pontiagudo piano e
um comprido saxofone, permeada por curtos silêncios perturbados por uma
silábica bateria e um tímido contrabaixo, até que vai ganhando forma e
conclui numa comunhão total, veloz. É, realmente, um trabalho sempre
conclusivo, faixa a faixa, no sentido de dar acabamento a tudo aquilo que é
proposto, não se deixam pontas soltas – um jazz apertado.
Faixas
1.Pralin
04:09
2.Nano
Fromage 05:01
3.Coconut
Race 03:50
4.Ve
1999 06:18
5.Pistache
Cowboy 03:40
6.Wine
Time, Pt. 1 06:09
7.Wine
Time, Pt. 2 04:01
8.Tiktik
07:27
9.Mars
04:36
10.Bazar
(faixa bônus) 05:04
11.Loin
Du Phare (faixa bônus) 05:55
Músicos: Émile Parisien— saxofone soprano, eletrônica; Julien Touéry— piano; Ivan Gélugne— contrabaixo; Julien Loutelier— bateria, eletrônica.
Fonte: OLIVER
PATRIOTA (jazz.pt)
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