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sábado, 20 de julho de 2024

EMILE PARISIEN QUARTET - LET THEM COOK (ACT Music)

Há já algum tempo que o saxofonista Emile Parisien vem fazendo barulho na cena jazzística francesa – tão alto que ressoa na Europa e no mundo. O seu último disco, “Let Them Cook”, gravado com Julien Touéry (piano), Ivan Gélugne (contrabaixo) e Julien Loutelier (bateria), celebra dez anos de ligação com a prolífica editora alemã ACT Music, é uma vívida exposição do quão vasto é o mundo do jazz contemporâneo.

A faixa que abre o disco, “Pralin”, introduz o ouvinte a um ambiente vago, abstrato, que garante uma pequena linearidade por melodias tenras, mas sombrias, do saxofone de Parisien. O meio é delineado de maneira essencialmente dispersiva, pela inconclusividade das melodias e pela espacialização da percussão que ressoa – como que num convite à incerteza. De início, é possível perceber uma espécie de trajeto à ação que caracteriza o disco até a faixa “Coconut Race”. Após uma transubstanciação exposta nos entremeios, na segunda faixa, “Nano Fromage”, o ambiente explode numa profusão veloz pelo quarteto, não permitindo mais espaço ou tempo à dúvida. Está agora tudo perfeitamente amarrado, e a impressão dá-se de maneira imediata e caótica – mas sem perder o discernimento, visto que há, e é audível, nos músicos, um compromisso com a transmissão integral de um conteúdo musical que precisa ser expresso, condensado na cadência de Parisien. À comunhão, após uma melodia dobrada pelo saxofone e pelo piano, opõe-se à a solidão. Ainda assim, o saxofone feroz de Parisien não para, mesmo que todos o deixem sozinho, ermo. Percebendo-se como tal, acalma-se, mas apenas para ser novamente acompanhado, agora com uma seção rítmica muito concreta e estável. A um primeiro momento aéreo, opõe-se agora o chão sólido.

Mas o disco não é simplesmente uma série de movimentos de progresso linear e ou de mero desenvolvimento. A própria faixa imediatamente seguinte, “Ve 1999”, propõe um amplo diálogo, com sintetizadores de espacialização ao lado de uma rígida bateria estática, com melodias rápidas da dupla piano e saxofone; “Wine Time, Pt. 2” opõe divagações melódicas tonais a baterias marciais num ambiente difuso que se engrandece até à dissolução; “Loin Du Phare”, tema bônus que fecha o disco, começa de maneira quase assustadora, com um pontiagudo piano e um comprido saxofone, permeada por curtos silêncios perturbados por uma silábica bateria e um tímido contrabaixo, até que vai ganhando forma e conclui numa comunhão total, veloz. É, realmente, um trabalho sempre conclusivo, faixa a faixa, no sentido de dar acabamento a tudo aquilo que é proposto, não se deixam pontas soltas – um jazz apertado.

Faixas

1.Pralin 04:09

2.Nano Fromage 05:01

3.Coconut Race 03:50

4.Ve 1999 06:18

5.Pistache Cowboy 03:40

6.Wine Time, Pt. 1 06:09

7.Wine Time, Pt. 2 04:01

8.Tiktik 07:27

9.Mars 04:36

10.Bazar (faixa bônus) 05:04

11.Loin Du Phare (faixa bônus) 05:55

Músicos: Émile Parisien— saxofone soprano, eletrônica; Julien Touéry— piano; Ivan Gélugne— contrabaixo; Julien Loutelier— bateria, eletrônica.

Fonte: OLIVER PATRIOTA (jazz.pt)

 

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