Sob a mentoria de Fred Hersch e Jason Moran, e produzido por
Hersch, “Solo Game” coloca o pianista Sullivan Fortner, realmente, em um bom
lugar. Isso é antes mesmo da música começar. Então começa com um solo astuto e
moderado na animada "Don't You Worry 'bout a Thing , de Stevie Wonder, colocada
na lista das melhores de 1973, enquanto dá dicas sutis para a viagem à frente,
forjada pelo eu quixotesco de Fortner.
Fortner, que tem desenvolvido constantemente uma discografia
que inclui a gravação do seu próprio quarteto Aria (Impulse!, 2015), um período
de sete anos com Roy Hargrove, e sessões escolhidas com Paul Simon, Cecile
McLorin Salvant (que adiciona sua magia etérea aos "Tubular Bells"
como "Snakes and Ladders"), e Melissa Aldana apenas para nomear uns
poucos. Com seu perfeito tom e clássica abordagem a passos largos, o pianista
tem uma longa e ilustre carreira pela frente.
Uma abordagem outonal temperada para "I Didn't Know
What Time it Was" de Richard Rodgers desmente a idade de Fortner. Há um
claro senso de ânsia, mas sabendo que os anos revelam como serão. A produção de
Hersch é imaculada, lançando luz sobre a visão claramente articulada de Fortner
— uma abordagem nova e mais segura das coisas que são bonitas em detrimento da
conveniência, coisas com presença eterna.
O pianista faz o que todos os grandes artistas inovadores e
verdadeiros criadores fazem (não são derivados do Tik Tok). Eles desafiam a si
mesmos e elevam-se bem acima desse desafio. Assim, "Congolese
Children" de Randy Weston soa totalmente concebida e integral, assim como a
deliciosa "Once I Loved" de Antônio Carlos Jobim. Fortner está tão
ciente daqueles que dominaram as chaves antes dele que, no momento em que
chegamos a brincadeiras singularmente maleáveis com a saltitante 'Cute' de
Neil Heftiand, com o neo-ragtime "This Is New" de Kurt Weill, visões
de Art Tatum e Bud Powell estão dançando em nossas cabeças.
Esses empreendimentos individuais podem às vezes ser exagerados
— pense na “Restoration Ruin (Vortex, 1968)” do jovem Keith Jarrett —porém “Solo
Game” na maior parte evita aquelas quedas juvenis. Embora tenha seus momentos
forjados, tal como em "It's A Game" — a segunda faixa no Disco Dois—
demora um pouco demais, previsivelmente. Aqui o pianista utiliza vários instrumentos
incluindo vibrafone, celesta, chime tree (NT: Um instrumento de
percussão que consiste em muitos pequenos sinos – normalmente cilindros de
metal sólido com aproximadamente 6 mm), Moog, Vocoder, Rain
Maker, Hammond B3 e batedor de ovos. Inteiramente composto por Fortner, a
ressaca taciturna em forma de poço "Snakes and Ladders" é vítima,
mais uma vez, de sua extensão. "Hounds and Jackals" por outro lado é
bem curta. "Space Walk " é como a nova geração assistindo 2001:
Uma Odisseia no Espaço. Porém, dada a gravidade de “Solo Game”, isso é
realmente picuinha. Estes dois discos estão além de qualquer questão e vale o
tempo que leva para ser puxado para sua órbita graciosa e sustentável.
Faixas:
CD 1: Don't
You Worry About a Thing; I Didn't Know What Time It Was; Congolese Children;
I'm All Smiles; Invitation; Once I Loved; Cute; This Is New; Come Sunday.
CD 2: Power
Mode; It's a Game; Snakes and Ladders; Hounds and Jackal; King's Table; Stag;
Cross and Circle; Space Walk; Valse Du Petit Chien; Fred Hersch, Notes on Solo;
Jason Moran, Notes on Game.
Músicos: Sullivan
Fortner - piano; piano (Steinway B), palmas, shakers, Canopus Bass
Drum, gongo mongoliano (2); Kyle Pool: palmas (2-2); Cecile McLorin
Salvant: vocal (2-3).
Fonte: Mike
Jurkovic (AllAboutJazz)
Nenhum comentário:
Postar um comentário