“As We Speak” é uma continuação empática das ecléticas
aventuras do banjoísta Bela Fleck datando dos seus dias de ensino médio. É,
portanto, justo que o título deste LP faça alusão ao processo artístico contínuo
em que a criatividade pode surgir, virtualmente sem parada, não importa que
outro(s) diálogo(s) possa(m) estar acontecendo no momento.
De fato, o trio de Fleck, formado com o mestre da tabla, Zakir
Hussain e o baixista Edgar Meyer, que já atuaram juntos no passado—vejam “The
Melody of Rhythm (Koch, 2009)”. Porém, considerando que esse projeto envolveu The
Detroit Symphony Orchestra este título incorpora o bansurista (NT: quem toca bansuri, uma flauta transversal da Índia,
literalmente das palavras bambu e suri). Rakesh Chaurasia, cujo
instrumento empresta um ar
alternadamente fantasmagórico e fantasioso aos procedimentos via "Motion"
e "The B Tune", dentre outros
Espelhando a malha de imagens borradas na capa do álbum, a
fusão deste quarteto de músicas clássicas indianas e ocidentais, bluegrass e
jazz traz à lembrança o comentário do falecido tecladista/compositor Joe
Zawinul sobre o Weather Report, a banda que ele liderou com o saxofonista/compositor
Wayne Shorter, parafraseando, Fleck, Hussain, Meyer e Chaurasia parecem estar
sempre solando, mas nunca solando.
Durante o conjunto e as interações graciosas que compõem "J
Bhai", por exemplo, economia e autodisciplina coexistem com abandono total
de forma a inflamar não apenas a imaginação coletiva e individual dos músicos, mas,
provavelmente, também a dos ouvintes. Enquanto "Tradewinds Bengali" invoca
exóticos reinos, a corrente de alegria dentro "Rickety Karma" também
injeta uma medida de leveza aos procedimentos que impede que qualquer coisa
muito séria irradie desta ou do total de uma dúzia de faixas.
Produzido por Fleck (que também coprojetou com seu guru
sonoro de longa data, Richard Battaglia), várias combinações composicionais dos
três principais fornecedores do material de origem de um suntuoso programa de
setenta e cinco minutos que vale a pena saborear repetidamente na íntegra. É um
mérito para estes artistas que, mesmo quando a interação se torna frenética, como
em "Pashto", eles nunca sucumbem à tentação de superar um ao outro.
Do mesmo modo, na forma comparativamente tranquila de "1989"
esta é música que vive e respira como uma expressão direta da experiência de
trabalho de cada músico e, apenas em um grau um pouco menor, a história
compartilhada de Fleck, Meyer e Hussain. E embora haja uma formalidade digna em
alguns intervalos como a faixa mencionada, um capricho decidido também flui,
novamente graças em grande parte às texturas arejadas que Chausari desenrola
com sua flauta.
Ao final, a geração de quatro vias desses sons coloridos em “As
We Speak” é ao mesmo tempo insinuante e transportadora. Estes são quatro
músicos que, acima de tudo, simplesmente adoram tocar, talvez nunca mais do que
quando o fazem aqui com tanta fluidez intuitiva.
Faixas : Motion;
The B Tune; Tradewinds Bengali; J Bhai; Rickety Karma; 1980; Owl's Misfortune;
Pashto; Hidden Lake; Beast in the Garden; Conundrum; As We Speak.
Músicos: Bela Fleck (banjo); Zakir Hussain (tablas); Edgar
Meyer (baixo); Rakesh Chaurasia (flauta).
Para conhecer um pouco deste trabalho, assistam ao vídeo
abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=ZUlRh5fw6Kk
Fonte: Doug
Collette (AllAboutJazz)
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