“Short Stories”, o sétimo álbum do pianista e compositor
David Lopato, é na maior parte moderno no melhor sentido da palavra. As
influências musicais de Lopato são amplas, indo do jazz, blues e rock à
avant-garde e improvisação free, enquanto abraça temas da Africa, América
Latina e Ásia — mais notavelmente da Indonésia onde ele passou um ano com uma
bolsa da Fulbright , aprendendo a tocar o gamelão javanês (NT: instrumento musical coletivo típico das ilhas de Java e
Bali, na Indonésia. É composto por uma série de metalofones, xilofones, kendang
(tambores) e gongos, podendo algumas variantes incluir ainda flautas de bambu e
instrumentos de cordas percutidas ou tocadas com arco, ou mesmo cantores).
Mesmo quando fundindo esses diversos laços em uma única visão, entretanto,
Lopato raramente se afasta do básico, enquadrando melodias e harmonias que até
mesmo ouvintes casuais podem entender e apreciar. Em outras palavras, não
importa quão longe Lopato e seu conjunto possam vagar, o jazz permanece o
elemento central, aquele para o qual todo caminho finalmente leva.
Qualquer outra coisa que alguém faça, é inútil classificar a
música de Lopato, como pode haver jazz direto em um momento e swing antigo no próximo,
seguido por uma meditação budista, uma locução vanguardista, ritmos latinos,
uma vibração de Nova Orleans e até uma ou duas baladas intensas e românticas. Após
a abertura com ritmo acelerado de "Prince of Darkness" de Wayne
Shorter, o álbum foca exclusivamente nas composições de Lopato, ao oito todo,
incluindo tributos aos falecidos Chick Corea e o presidente da África do Sul, Nelson
Mandela. A graciosa "For Chick" na qual Lopato exibe sua maestria nos
teclados enquanto realça os solos brilhantes do clarinetista Lucas Pino, o trombonista
Ed Neumeister e o baixista Ratzo Harris, leva ao suíngue espasmódico...,
"Stuttersteppin'" no qual Lopato e o baterista Michael Sarin assumem
o controle.
"Through the Veil", que inicia suavemente, é
inspirada em um tema budista que mistura jazz contemporâneo com improvisação de
vanguarda, principalmente Pino (no sax soprano) e Neumeister cuja ginástica do
trombone empresta um ambiente "cantante" a um vocal sem palavras de Anson
Jones (que está presente, mas basicamente inaudível em "Papagayo"). A
homenagem de Lopato a Mandela, "Nelson" suínga firme em todo o
caminho e apresenta um trabalho de seção deslumbrante por trás de solos
aquecidos de Pino (no sax tenor), Neumeister e Sarin. Isto leva à balada
delicada "Clarity" (bem apresentada por Harris com Pino brilhando
novamente no clarinete) e ao blues "Looking for Mr. Babar", uma mistura
inspirada em Crescent City cujo espírito Dixie é enfatizado por Harris e
Lopato que sola com percepção e firmeza, e por Neumeister e Pino cujas trocas
ágeis prenunciam o atraente refrão.
O percussionista Bobby Sanabria coloca sua marca indelével no
meio da seção em "Papagayo", um samba alegre onde Lopato e Pino (no
tenor) também sobressaem. Pino retorna ao clarinete para alegrar "The
Glass Ceiling", uma balada suave que fecha a cortina em uma sessão
exemplar. Embora classificar os temas de Lopato possa ser inútil, deve-se notar
que eles são em partes iguais intrépidos e sedutores, e sua “Short Stories” vale
a pena ler.
Faixas: Prince
of Darkness; For Chick; Stuttersteppin’; Through the Veil; Nelson; Clarity;
Looking for Mr. Babar; Papagayo; The Glass Ceiling.
Músicos: David Lopato (piano); Lucas Pino (saxofone); Ed
Neumeister (trombone); Ratzo Harris (baixo); Michael Sarin (bateria); Bobby
Sanabria (congas); Rogerio Boccato (percussão); Keita Ogawa (percussão); Anson
Jones (vocal)
Fonte: Jack
Bowers (AllAboutJazz)
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