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sábado, 28 de setembro de 2024

TGB - ROOM 4 (Clean Feed)

O deslizar profundo da tuba funde-se na perfeição com o mais fino da guitarra, num disco que não só celebra o regresso do TGB às gravações como também a verdade e virtuosismo que colocam na música que fazem para este grupo com uma sonoridade particular. A fórmula inusitada leva 4 discos em 20 anos, o que nos compromete desde logo com “Room 4”, por ser um registo de um grupo parcimonioso, mas também porque é música tocada por três mestres dos seus instrumentos.

4 discos em 20 anos mostram que os TGB não gravam à toa. O trio português inventou uma fórmula invulgar, que se distingue desde logo pelo som da tuba de Sérgio Carolino – enorme mas flexível (parece paradoxal, mas se verifica) - capaz de fazer baixos graves e densos e, ao mesmo tempo, de subir aos agudos para solar (o que só está ao alcance de muito poucos tubistas no mundo). Com este som deslizante, os TGB – tuba, guitarra e bateria – criam um jazz feito de melodias, balanço e grande sabedoria na ação combinada.

Lançaram o primeiro disco (“Tuba, Guitarra e Bateria”) em 2004, “Evil Things” em 2010, “III” em 2019 e agora “Room 4” sempre com princípios semelhantes: o TGB é uma panela onde três músicos colocam influências e gostos e onde colaboram positivamente para uma música de fácil palato e acessível (sem com isto significar que é pobre, revisionista ou excessivamente açucarada). Contudo há uma diferença em “Room 4” em relação aos seus antecessores: todas as músicas foram escritas pelo trio, com Mário Delgado a ser o principal responsável pelos deveres composicionais.

Passamos por uma grande variedade de linguagens, desde o funky arockado (ex: “Kinetic”) ou do mais puro (ex: “Interstellar Vibe”), melodias fílmicas para diferentes cenas (ex: “Em Tempo Real), uma balada lindíssima (“Pedro Virtuoso, Poeta Errante”) e muito mais. Os temas do disco lembram uma grande paleta de referências, algumas mais à superfície, outras mais profundas.

Carolino, Delgado e Frazão tocam com confiança, mesmo quando alguns temas (ex: “Coconut Cartoon”) estão no limite da caricatura. E isso ouve-se. A forma como se entregam às músicas, mesmo às mais insípidas, e tentam construir alguma coisa boa, interessa o ouvinte. Alexandre Frazão foca-se na marcação do tempo e em enriquecê-lo com ritmos complementares. Mário Delgado no auge da sua capacidade técnica – o que inclui a mestria no uso dos pedais - dá carácter, fazendo com que o som do grupo nunca soe repetitivo. Sérgio Carolino é um virtuoso e impressiona ao assumir (por vezes em simultâneo) os dois papéis: de criar os baixos e a solar como elegância, usando até uma distorção suave causada pelos pedais em benefício da música.

“Room 4” é um documento de um percurso que vai sendo feito principalmente em concertos ao vivo, mas que, em boa hora, é fixado em disco. É importante dar-lhe um ouvido.

Faixas

1.Kinetic 06:19

2.Trailblazer 03:13

3.Em Tempo Real 06:28

4.Dança Fantasma 04:36

5.Coconut Cartoon 04:52

6.Nebula’ s Awakening 01:21

7.Interstellar Vibe 05:41

8.Pedro Virtuoso Poeta Errante 05:27

9.Rhythmic Rebellion 06:39

 Músicos: Mário Delgado— guitarra elétrica; Sérgio Carolino— tuba; Alexandre Frazão— bateria.

Fonte: Gonçalo Falcão (jazz.pt)

 

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