O deslizar profundo da tuba funde-se na perfeição com o mais
fino da guitarra, num disco que não só celebra o regresso do TGB às gravações
como também a verdade e virtuosismo que colocam na música que fazem para este
grupo com uma sonoridade particular. A fórmula inusitada leva 4 discos em 20
anos, o que nos compromete desde logo com “Room 4”, por ser um registo de um
grupo parcimonioso, mas também porque é música tocada por três mestres dos seus
instrumentos.
4 discos em 20 anos mostram que os TGB não gravam à toa. O
trio português inventou uma fórmula invulgar, que se distingue desde logo pelo
som da tuba de Sérgio Carolino – enorme mas flexível (parece paradoxal, mas se verifica)
- capaz de fazer baixos graves e densos e, ao mesmo tempo, de subir aos agudos
para solar (o que só está ao alcance de muito poucos tubistas no mundo). Com
este som deslizante, os TGB – tuba, guitarra e bateria – criam um jazz feito de
melodias, balanço e grande sabedoria na ação combinada.
Lançaram o primeiro disco (“Tuba, Guitarra e Bateria”) em
2004, “Evil Things” em 2010, “III” em 2019 e agora “Room 4” sempre com
princípios semelhantes: o TGB é uma panela onde três músicos colocam
influências e gostos e onde colaboram positivamente para uma música de fácil
palato e acessível (sem com isto significar que é pobre, revisionista ou
excessivamente açucarada). Contudo há uma diferença em “Room 4” em relação aos
seus antecessores: todas as músicas foram escritas pelo trio, com Mário Delgado
a ser o principal responsável pelos deveres composicionais.
Passamos por uma grande variedade de linguagens, desde o funky
arockado (ex: “Kinetic”) ou do mais puro (ex: “Interstellar Vibe”),
melodias fílmicas para diferentes cenas (ex: “Em Tempo Real), uma balada lindíssima
(“Pedro Virtuoso, Poeta Errante”) e muito mais. Os temas do disco lembram uma
grande paleta de referências, algumas mais à superfície, outras mais profundas.
Carolino, Delgado e Frazão tocam com confiança, mesmo quando
alguns temas (ex: “Coconut Cartoon”) estão no limite da caricatura. E isso
ouve-se. A forma como se entregam às músicas, mesmo às mais insípidas, e tentam
construir alguma coisa boa, interessa o ouvinte. Alexandre Frazão foca-se na
marcação do tempo e em enriquecê-lo com ritmos complementares. Mário Delgado no
auge da sua capacidade técnica – o que inclui a mestria no uso dos pedais - dá
carácter, fazendo com que o som do grupo nunca soe repetitivo. Sérgio Carolino
é um virtuoso e impressiona ao assumir (por vezes em simultâneo) os dois
papéis: de criar os baixos e a solar como elegância, usando até uma distorção
suave causada pelos pedais em benefício da música.
“Room 4” é um documento de um percurso que vai sendo feito
principalmente em concertos ao vivo, mas que, em boa hora, é fixado em disco. É
importante dar-lhe um ouvido.
Faixas
1.Kinetic 06:19
2.Trailblazer 03:13
3.Em Tempo Real 06:28
4.Dança Fantasma 04:36
5.Coconut Cartoon 04:52
6.Nebula’ s Awakening 01:21
7.Interstellar Vibe 05:41
8.Pedro Virtuoso Poeta Errante 05:27
9.Rhythmic Rebellion 06:39
Fonte: Gonçalo Falcão (jazz.pt)
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