Dois mestres que inventaram um (o?) léxico para seus
instrumentos se encontram no “So It Goes”. O saxofonista britânico Evan Parker e
seu compatriota, o baixista Barry Guy, não deveriam precisar de apresentações
para qualquer pessoa interessada na improvisação livre europeia. Ambos estão
ativos desde os anos 1970 e permanecem como forças vitais, mesmo quando ambos
avançam para a oitava década. A associação deles foi formalizada em 1980 com o
início do trio de longa data completado pelo baterista Paul Lytton. Porém, eles
também apareceram em dueto muitas vezes, evidenciados por quatro gravações
anteriores, a mais recente das quais foi “Birds And Blades (Intakt, 2002)”.
Assim, 21 anos depois, chega mais um trabalho, capturado no
concerto próximo à casa de Parker em Faversham, Kent, oferecendo uma
atualização benvinda desta fértil parceria. As cinco faixas compreendem três peças
em duo e uma peça solo de cada. Como sempre, uma comunhão intensa e uma
velocidade estonteante de resposta, que caracteriza sua interação, mesmo que as
próprias réplicas possam ser oblíquas (na verdade, um de seus álbuns anteriores
foi intitulado “Obliquities”). Assim, quando a filigrana esvoaçante de Guy
aparece no início de 'So It Goes 1', atraindo um eco instantâneo do tenor de
Parker, isso se destaca como a exceção, não a regra.
Mais frequentemente qualquer confluência está no ritmo ou
intensidade. Quando Parker lança seu soprano em "So It Goes 2" para
girar tufos vigorosos de guinchos de tubulações, Guy toma seu arco por um
lamento igualmente ininterrupto, que juntos definiram os tons efervescentes
pelo salão. Igualmente, em "So It Goes 3", em uma passagem fugaz, ambos
se aventuram, senão nos limites do lirismo, então, apenas um pouco acima da
colina. De outra forma, eles procedem em sequências de guinadas assimétricas e corridas
elegantes que desafiam o fácil delineamento.
As faixas desacompanhadas revelam os estilos deles em alta
definição. Guy deleita-se com contrastes: alto vs baixo; com arco vs dedilhado;
melodioso vs espinhoso; denso vs espaçoso."Grit" inicialmente evoca a
imagem de alguém lutando para libertar-se das cordas, antes de uma trégua de
delicados harmônicos e ondulações semelhantes a koto (NT:
é um instrumento musical de cordas dedilhadas, composto de uma caixa de
ressonância com diversas cordas, semelhante a uma grande cítara, possui cerca
de 1,80m. Atualmente é o mais popular dentre os instrumentos musicais
tradicionais japoneses) interrompidas por uma sucessão de rajadas
ferozes. Parker entra e sai de linhas circulares respiradas com tanta
naturalidade e suavidade que deixa de se tornar notável. Em "Creek
Creak" ele aperta as notas até que elas se expandam, regozijando-se com
sua liberdade, o primeiro de uma série de riachos incessantes que flutuam entre
os registros e ficam presos em obstáculos recorrentes.
Mesmo que tais resultados, sozinho ou em conjunto, não são
mais inesperados, a concepção geral permanece surpreendente. Como tal, a
oportunidade de imersão na sua alquimia simbiótica mais uma vez é motivo de
alegria.
Faixas: So
It Goes 1; So It Goes 2; Grit; Creek Creak; So It Goes 3.
Músicos: Evan Parker (saxofones soprano e tenor); Barry Guy
(baixo)
Fonte: John
Sharpe (AllAboutJazz)
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