playlist Music

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

EVAN PARKER - BARRY GUY - SO IT GOES (Maya)

Dois mestres que inventaram um (o?) léxico para seus instrumentos se encontram no “So It Goes”. O saxofonista britânico Evan Parker e seu compatriota, o baixista Barry Guy, não deveriam precisar de apresentações para qualquer pessoa interessada na improvisação livre europeia. Ambos estão ativos desde os anos 1970 e permanecem como forças vitais, mesmo quando ambos avançam para a oitava década. A associação deles foi formalizada em 1980 com o início do trio de longa data completado pelo baterista Paul Lytton. Porém, eles também apareceram em dueto muitas vezes, evidenciados por quatro gravações anteriores, a mais recente das quais foi “Birds And Blades (Intakt, 2002)”.

Assim, 21 anos depois, chega mais um trabalho, capturado no concerto próximo à casa de Parker em Faversham, Kent, oferecendo uma atualização benvinda desta fértil parceria. As cinco faixas compreendem três peças em duo e uma peça solo de cada. Como sempre, uma comunhão intensa e uma velocidade estonteante de resposta, que caracteriza sua interação, mesmo que as próprias réplicas possam ser oblíquas (na verdade, um de seus álbuns anteriores foi intitulado “Obliquities”). Assim, quando a filigrana esvoaçante de Guy aparece no início de 'So It Goes 1', atraindo um eco instantâneo do tenor de Parker, isso se destaca como a exceção, não a regra.

Mais frequentemente qualquer confluência está no ritmo ou intensidade. Quando Parker lança seu soprano em "So It Goes 2" para girar tufos vigorosos de guinchos de tubulações, Guy toma seu arco por um lamento igualmente ininterrupto, que juntos definiram os tons efervescentes pelo salão. Igualmente, em "So It Goes 3", em uma passagem fugaz, ambos se aventuram, senão nos limites do lirismo, então, apenas um pouco acima da colina. De outra forma, eles procedem em sequências de guinadas assimétricas e corridas elegantes que desafiam o fácil delineamento.

As faixas desacompanhadas revelam os estilos deles em alta definição. Guy deleita-se com contrastes: alto vs baixo; com arco vs dedilhado; melodioso vs espinhoso; denso vs espaçoso."Grit" inicialmente evoca a imagem de alguém lutando para libertar-se das cordas, antes de uma trégua de delicados harmônicos e ondulações semelhantes a koto (NT: é um instrumento musical de cordas dedilhadas, composto de uma caixa de ressonância com diversas cordas, semelhante a uma grande cítara, possui cerca de 1,80m. Atualmente é o mais popular dentre os instrumentos musicais tradicionais japoneses) interrompidas por uma sucessão de rajadas ferozes. Parker entra e sai de linhas circulares respiradas com tanta naturalidade e suavidade que deixa de se tornar notável. Em "Creek Creak" ele aperta as notas até que elas se expandam, regozijando-se com sua liberdade, o primeiro de uma série de riachos incessantes que flutuam entre os registros e ficam presos em obstáculos recorrentes.

Mesmo que tais resultados, sozinho ou em conjunto, não são mais inesperados, a concepção geral permanece surpreendente. Como tal, a oportunidade de imersão na sua alquimia simbiótica mais uma vez é motivo de alegria.

Faixas: So It Goes 1; So It Goes 2; Grit; Creek Creak; So It Goes 3.

Músicos: Evan Parker (saxofones soprano e tenor); Barry Guy (baixo)

Fonte: John Sharpe (AllAboutJazz)

 

 

Nenhum comentário: