Muito da história do jazz pós 1965 tem sido uma busca pelo
ponto ideal entre seus focos de música popular e artística? Bem, com “Blue Note
Mode”, o guitarrista belga Jeanfrançois Prins parece tê-lo encontrado. Se o
título não diz isso (não por coincidência, o álbum foi gravado no estúdio de
Rudy Van Gelder), os membros da banda — Jeremy Pelt e Jaleel Shaw,
instrumentistas de sopro; o pianista Danny Grissett, o baixista Jay Anderson e
o baterista E.J. Strickland — o fazem.
Na verdade, há uma certa natureza de imagem lenticular em “Blue
Note Mode”. Examinado de um ângulo, é uma gravação hard-bop: plena de suíngue e
blues, calor, instrumentos de sopro lamentosos (“Blue Note Mode”, “Move or Be
Moved”) e a clareza líquida da entonação da guitarra de Prins (“Diana”, “’Round
Midnight”). Abordada de um outro ângulo, no entanto, é um álbum exploratório e
pós-bop com formas não convencionais e mudanças no tempo (“H and C’s Dance”),
harmonias inquietantes (“Blues Sea”) e padrões reajustados com ritmos hip-hop
(“Daahoud”). Nunca, porém, essa dicotomia parece forçada ou bipolar. É tudo uma
tapeçaria lindamente coesa.
E isso claramente inspira todos os envolvidos. O trompetista
Pelt, em particular, está em lágrimas. Cada vez que ele assume o solo, destaca-se
e brilha através dele. “Move Or Be Moved” de Prins é um exemplo brilhante: Da
propulsiva linha do alto de Shaw, Pelt decola como se tivesse sido picado por
uma abelha, com cada frase consecutiva sendo uma nova fanfarra. Prins sistematicamente
segue Pelt nas sequências solo, e, seja por inspiração deste último ou por sua
própria centelha, ele sempre parece fazer parte. Na faixa título, o trompetista
encerra seu solo com um toque refrigerante, que Prins imediatamente descarta
para queimar a junta.
Importantemente, entretanto, Prins pode gerar séria
eletricidade sem os instrumentos de sopro, e o faz em seis das doze faixas do
álbum. Ele e Grissett estabeleceram uma cintilante maratona de solo duplo em
“I’m Movin’ On” e “Ornette-Lee” do guitarrista (irônico que a última, denominada
para dois saxofonistas favoritos de Prins, não tem instrumento de sopro). O
líder, então, surpreende com um doce vocal no encerramento em “Too Late Now”. É
um belo momento que torna as identidades pop ou artísticas irrelevantes.
Faixas
1.Blue
Note Mode 05:56
2.I'm
Movin' On 06:02
3.Our
Prayer for Peace 08:40
4.H and
C's Dance 09:17
5.Blues
Sea 06:53
6.Ornette-Lee
06:51
7.Diana
08:49
8.J Mood
05:30
9.Daahoud
05:24
10.Round
Midnight 08:46
11.Move
or Be Moved 04:10
12.Too
Late Now 02:57
Músicos: Jeanfrançois Prins: guitarra, vocal (faixa 12); Danny Grissett: piano; Jay Anderson: baixo; E.J. Strickland: bateria; Jeremy Pelt: trompete; Jaleel Shaw: sax alto.
Fonte: Michael J. West (DownBeat)
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