Além da edição de registros de
Cannonball Adderley, Yusef Lateef, Sun Ra, Mal Waldron & Steve Lacy e Chet
Baker & Jack Sheldon, o selo catalão Elemental Music acaba de relançar o
álbum “Thembi” de Pharoah Sanders numa edição em vinil de 180g. A capa dupla
reproduz a arte original de 1971 e no interior vemos uma grande foto em preto e
branco de Sanders em ação, cobrindo dois terços do espaço, fotos menores dos
músicos, um poema de Keorapetse Kgositsile, títulos das faixas e créditos
completos. Também idênticos à edição original, são os adesivos redondos em
ambos os lados do próprio LP. Musicalmente, o álbum tem talvez mais em comum
com “Tauhid” de Sanders (1967) do que com “Karma” (1969, ambos também editados
pela Impulse!) e sua longa declaração “The creator has a masterplan”, com lados
seguintes explorando o mesmo groove, com grande efeito como em “Black
Unity”. Ao contrário desses, “Thembi” é um álbum de sons, cores e humores
contrastantes. Foi feito em duas sessões por um trio central composto por
Sanders (nos saxofones soprano e tenor, flautas, sinos, koto, flauta
transversal e percussão), Lonnie Liston Smith (piano acústico e elétrico,
percussão) e Cecil McBee (contrabaixo), juntando-se no lado A (gravado em
novembro de 1970 em Los Angeles) Michael White (violino), James Jordan
(percussão) e Clifford Jarvis (bateria) e no lado B (gravado em janeiro de 1971
em Nova York) Roy Haynes (bateria) e um quarteto de tocadores de tambores
africanos e percussão.
Cada lado do disco inclui três
composições, de duração moderada, três por Sanders, uma por Smith, uma
cocreditada a Sanders e Liston Smith e uma por Cecil McBee. “Astral Traveling”
é um arranque sedutor, com suas ondas de piano elétrico híper-vibrante, o
saxofone rouco, mas contido, e seu contrabaixo flexível, contribuindo para a
atmosfera meditativa – Liston Smith retomaria a melodia no seu álbum de 1973,
também intitulado “Astral Traveling”. As coisas ficam mais selvagens em “Red,
Black and Green”, com múltiplos gritos de saxofone sobrepostos na introdução; o
tema progride desses rugidos iniciais para terrenos menos hostis, enquanto
mantém a abordagem sobrecarregada até o fim – uma música que fica para as
antologias do free jazz. “Thembi” (nome da esposa sul-africana de Sanders, abreviado
de Nomathemba) é, em contraste, uma miniatura, versão mais leve e animada dos
longos trabalhos pelos quais Pharoah é conhecido. A conexão entre os
instrumentos funciona às mil maravilhas e o violino de Michael White está em
particular destaque. A procura espiritual continua no lado B com “Love” (um
solo de contrabaixo livre por McBee), que se transforma em “Morning Prayer”,
começando com koto e transformando-se num tapete mágico, repleto de percussão,
com a flauta suave e o poderoso tenor do líder. E o disco fecha com “Bailophone
Dance”, onde tambores africanos contundentes são acompanhados por vários
instrumentos de sopro em sucessão de Sanders (tenor, flauta, flauta
transversal), com gritos e cantos de pássaros – cortesia de Smith e McBee.
Combinados, todos estes elementos proporcionam uma audição muito satisfatória e
este disco funciona como lembrete de que Sanders (1940-2022) conseguiu
encontrar um caminho muito singular após sua ligação com John Coltrane. Mais de
cinco décadas depois, as manifestações das suas visões resistem ao teste do
tempo.
Faixas
Lado
A
1.
Astral Traveling
2.
Red, Black & Green
3.
Thembi
Lado
B
1.
Love
2.
Morning Prayer
3.
Bailophone Dance
Músicos : Pharoah Sanders— saxofone tenor, saxofone soprano, flauta alto, koto, sinos de latão, balafon, maracas, chifre de vaca, pífaros; Lonnie Liston Smith— piano, piano elétrico, clavas, percussão, balafon; Michael White— violino, percussão; Cecil McBee— contrabaixo, percussão; Roy Haynes— bateria; Clifford Jarvis— bateria, maracas, sinos, percussão; Nat Bettis— percussão africana; Chief Bey— percussão africana; Majid Shabazz— percussão africana; Anthony Wiles— percussão africana; James Jordan— percussão.
Fonte:
David Cristol (jazz.pt)
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