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terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

J. PAVONE STRING ENSEMBLE – REVERSE BLOOM (Astral Spirits)

Como instrumentista e compositora, Jessica Pavone (Nascida em 1976) tem prosseguido uma abordagem tátil e sensorial à música, como um meio baseado em vibrações, «Inspirada por processos que centram a intuição e o instinto, a minha música canaliza todas estas ideias em composições, concentrando-se na forma como a música é sentida quando tocada e ouvida e explorando a forma como as vibrações sónicas afetam o corpo, tecendo as minhas experiências como instrumentista em obras que transcendem o tempo», explica Pavone em declaração publicada na sua página na internet. O trabalho meticuloso e exigente que vem desenvolvendo tem sido vertido em álbuns como o soberbo “Lost and Found” (2020), “Lull” (2021) – para octeto de cordas e solistas convidados, o trompetista Nate Wooley e o percussionista Brian Chase -, “… of Late” (2022), “When No One Around You Is There But Nowhere To Be Found” (o seu quarto álbum a solo com música para viola, 2022), “Images of One” – com o contrabaixista Tristan Kasten-Krause – ou “Clamor”, para sexteto de cordas e solistas, ambos editados em 2023. Jessica Pavone interpretou ainda música original de William Parker, Henry Threadgill, Matana Roberts, Wadada Leo Smith, Elliott Sharp e Taylor Ho Bynum, apenas para mencionar alguns. De 2005 a 2012, andou em digressões regulares com o Sexteto e o 12+1tet de Anthony Braxton, estando presente na discografia do compositor nessa fase.

De 2012 para cá, a violista/violinista estadunidense tem vindo a erigir um relevante corpo de trabalho, sobretudo para viola solo e para o seu String Ensemble, no qual é acompanhada por Abby Swidler no violino e na viola e Aimée Niemann no violino. «O meu trabalho baseia-se e desenvolve a notação musical tradicional e as técnicas de improvisação, alternando entre abordagens baseadas na métrica e na duração e instruções improvisadas e notadas», refere. «Dando prioridade a um estilo intencionalmente fluido que emprega técnicas indeterminadas, as partituras oferecem aos músicos a possibilidade de esculpir aspectos das peças», acrescenta a violista. “Reverse Bloom” é o mais recente fruto discográfico do J. Pavone String Ensemble, novamente com selo da Astral Spirits de Nate Cross, editora baseada em Austin, Texas, focada no free jazz e na música experimental, cujo catálogo importa garimpar. Também neste registro escutamos música que radica nas características peculiares de cada músico para se abrir à difícil arte da improvisação coletiva. «Através dos espaços abertos, os músicos recriam as composições de cada vez que atuam, promovendo uma relação colaborativa de resposta a uma partitura e uns aos outros», sublinha Pavone. «A abordagem de conjunto centra-se numa visão de improvisação coletiva que enfatiza um tapete tecido em colaboração, em contraste com o método de improvisação tradicional que valoriza o espetáculo do solista.»

Nas notas para o álbum, de “Reverse Bloom”, Gabriel Jermaine Vanlandingham-Dunn refere-se à noite de 13 de julho de 2023, quando se deslocou ao clube The Stone, meca da improvisação nova-iorquina, para escutar ao vivo o J. Pavone String Ensemble pela terceira vez. Conta ele que depois de terminada a primeira parte, a líder dirigiu-se ao público presente durante alguns minutos. Explicou que o grupo estava prestes a estrear as peças que vêm agora a luz do dia em “Reverse Bloom”. «Isto é como estar com estranhos», disse Pavone então entre sorrisos. À medida que as três instrumentistas desvendavam o material, nem tudo se terá tornado mais claro. Essa sensação de permanente incerteza também nos assalta ao escutar o registro desse material em estúdio. O que neste caso só pode ser bom. A peça-título, que abre o álbum, começa com acordes lentos, arrastados, de uma solenidade que nos interpela acerca do espaço e do tempo em que estamos. À medida que a peça se desenvolve torna-se mais nervosa, de uma tensão latente, que persiste em não se resolver, até se instalar uma atmosfera escura, lamentosa. “Three Trees” mergulha-nos num ambiente misterioso, inquietante, feito de notas sobrepostas num crescendo de suspense, desafiado por pequenos detalhes e inflexões mais ou menos sutis; após uma paragem súbita, tudo se torna etéreo e planante. “Obstructed Current” surpreende desde logo pelo vigor com que nos esmurra sucessivamente os neurônios; seguem-se breves momentos de alguma acalmia sônica, com as cordas em permanente movimento, um vaivém ao mesmo tempo cerebral e físico, em linhas que se entrecruzam e contrastam, até se dissiparem em silêncio. “Embers Slumber” começa em pizzicato, introduzindo novamente um clima camerístico de uma beleza pungente, em movimentos com arco que se sucedem sem grandes sobressaltos; emergem fragmentos melódicos maravilhosos, que parecem pretender que nos reconciliemos com o mundo, alimentando um processo de busca interior, de regressão introspetiva, tal como parece inferir-se do título do álbum.

“Reverse Bloom” reclama audições sucessivas e atentas, de modo a captarmos toda a sua riqueza.

Faixas

1.Reverse Bloom 10:18

2.Three Trees 07:45

3.Obstructed Current 10:57

4.Embers Slumber 10:00

 Músicos: Jessica Pavone— composições, viola; Aimée Niemann— violino; Abby Swidler— violino, viola

Fonte: António Branco (jazz.pt)

 

 

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