A luz do sol que entra em uma igreja através de um vitral é
uma luz diferente — matizado e em tons suaves, sugerindo a presença da
divindade. O lançamento do quarteto do saxofonista Carl Clements, “A Different
Light”, dá a mesma impressão. Olhando para a arte da capa do álbum em formato
de vitral, o visual da artista Amanda Barrow para o álbum parece um ajuste
perfeito para este distinto quarteto moderno de jazz. As cores da pintura são
em sua maioria suaves, com duas esferas sobrepostas (Netuno e Uranus?. Ou
gigantes gasosos de outro sistema solar?) em eclipse, trazendo à mente uma
igreja do cosmos. Porém, estas reflexões podem ser especulações. Música atinge
ouvidos diferentes de maneiras distintas. O que é certo é que este saxofone e a
seção rítmica do quarteto realiza um som peculiar para a banda.
O disco inicia com "Onset". Tem um som de mosaico
de vidro fraturado. Ele corre, como Mercúrio girando ao redor do sol. Exala uma
precisão de máquina, como o funcionamento matemático de um sistema solar. Embora
haja distúrbios: o frenético Chase Morrin em um solo de piano em voo livre, por
exemplo, seguido por um solo de baixo gravitacional de Bruno Raberg,
acompanhado pelo modo rat-ta-tat do baterista Gen Yoshimura que soa como a
chuva de poeira espacial e pedaços de cascalho do cinturão de asteróides.
Clement toca saxofones tenor e soprano. Também, um bansuri (NT: é uma flauta transversal da Índia feita de um único eixo
de Bambu com seis ou sete furos para os dedos), um instrumento de
madeira que se originou no subcontinente indiano. As nuances do jazz mundial
entram e saem do som do conjunto. A canção título tem um toque spiritual,
como uma vibração de Wayne Shorter. Clements está no sax soprano e sua
entonação é requintada. Há paciência na narrativa da música. Imagine— voltando
à arte da capa novamente, de uma perspectiva diferente — vida marinha profunda
não vertebrada, movendo-se lentamente, deliberadamente sob imensa pressão,
vibrante apesar de seu ambiente hostil.
Muito se fala do quarteto de John Coltrane dos anos 1960 com
o baixista Jimmy Garrison, o pianista McCoy Tyner e o baterista Elvin Jones, pela
sincronicidade e energia coletiva na perfeição da expressão da visão do líder.
O mesmo vale para o saxofonista Oded Tzur e seus quartetos. O quarteto de Carl
Clements percorre um caminho de busca semelhante nesta gravação notável em seu
“A Different Life”.
Faixas: Onset;
Sanyog; A New Leaf; A Different Light; In Sight; Tango Extraño; Before Again;
Absence/Return; Good Luck, Bad Luck (Who Knows?).
Músicos: Carl Clements (saxofones tenor e soprano,bansuri); Chase
Morrin (piano); Bruno Raberg (baixo acústico); Gen Yoshimura (bateria),
Fonte: Dan
McClenaghan (AllAboutJazz)
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