O pianista Matthew Shipp particularmente favorece o formato em
duo. Entre uma discografia com 300 lançamentos, há combinações vencedoras com
parceiros tão variados quanto o trompetista Nate Wooley, o violista Mat Maneri
e os saxofonistas Darius Jones, Rob Brown e Evan Parker. Porém, ele mantém um
especial gosto pela dupla baixo/piano, contabilizando várias reuniões com
camaradas de longa data como William Parker e o atual baixista do seu trio,
Michael Bisio. A essa lista ilustre também pode ser adicionado seu primeiro
encontro com o famoso baixista Mark Helias no “The New Syntax”.
Helias ganhou destaque pela primeira vez com o saxofonista
Anthony Braxton no início dos anos 1980, gerando associações duradouras com o
pianista Anthony Davis e o baterista Ed Blackwell, tão bem quanto muitos outros
incluindo o saxofonista Dewey Redman e o trompetista Don Cherry. Sua profunda e
firme entonação, forte sensibilidade melódica e fisicalidade abundante pode ser
ouvida regularmente em seu trio Open Loose com o saxofonista Tony Malaby
e o baterista Tom Rainey, e no grupo cooperativo de 40 anos, BassDrumBone,
com o baterista Gerry Hemingway e o trombonista Ray Anderson.
Embora seja um compositor, Helias também prospera no
território impulsivo habitado por Shipp. Com seu comando no timbre, o ritmo e
capacidade de resposta deixam claro, ele fala a mesma linguagem. Porém, como o título
tem isso, a sintaxe pode diferir dos companheiros habituais do pianista. Será
que ele cerca suas anotações com um pouco mais de espaço do que Bisio? Ele
diminui aqueles padrões insistentes tão amados por Parker? Com uma música tão
inconstante é difícil ser definitivo, mas o álbum tem uma vibração diferente para
outros do mesmo tipo, possivelmente indicativo de que Shipp também está
sentindo uma nova situação.
Entretanto, as virtudes familiares de Shipp permanecem em
tela. Em fluxo constante, ele forja um amálgama singular de figuras rítmicas
beirando acompanhamentos improvisados, trechos de melodia, graves retumbantes,
interlúdios românticos e muito mais. Porém, a maneira como ele os implanta
talvez seja mais espaçosa, com consequentes ajustamentos em tempo e densidade. Como
prova a deslumbrante interação, os instrumentistas prodigiosamente equipados para
negociar as diferenças e similaridades. Embora as linhas de Helias se cruzem
obliquamente e às vezes de forma ligeiramente dissonante com Shipp, ele ainda
se acomoda prontamente em passagens de trote sincopado, de tal forma que todo o
conjunto oscila deliciosamente entre o jazz e a abstração.
Faixas: Mystic
Rubber Band; Psychic Ladder; Acoustic Electric; Bridge to Loka; We Sing the Body
Jazz; The Mystic Garden; The New Syntax; Sonic Swing Particles; Song for You.
Músicos: Matthew Shipp (piano); Mark Helias (baixo)
Fonte: John
Sharpe (AllAboutJazz)
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