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sábado, 12 de abril de 2025

REBEKA RUSJAN ZAJC – PRELUDE (Clean Feed)

Disco de estreia de uma jovem pianista, com uma só música: em vez da sofreguidão própria de quem começa e quer mostrar o seu trabalho, Rebeka Rusjan Zajc edita uma só peça de 35 minutos, muito boa.

A primeira audição remete-nos para o século XIX e para um Scriabin que saiu do armário e se soltou. Podemos também pensar em Keith Jarrett, se resolvesse fazer meia-hora das curtas divagações que usa quando está à procura de uma ideia, a passar de uma para outra.

O solo da pianista eslovena é feito de uma pequena massa sonora, sem extremos. Penso na música como se o cubo de Rubik fosse um poliedro complexo, com 20 faces, que estivesse a ser laboriosamente rodado à procura de cores e padrões interessantes, sem qualquer intenção de o resolver como puzzle. Quase como um divertimento de notas, quase sempre dentro de duas ou três oitavas contíguas, centrais, que estão em profunda agitação e que se entrelaçam, surgindo à superfície, mergulhando, num movimento circular. A música é serena, por vezes pausa para respirar. Não há dinâmicas extremadas e usa apenas uma pequena parte do teclado.

Estamos nas fronteiras entre a improvisação abstrata, o jazz e a música contemporânea. E é também necessário dizer que, ao trabalhar desta forma, num mundo pequeno e sempre da mesma maneira, a pianista cria consistência e um ideolecto que a distingue, sem dramatismos, sem emotividades extremadas, sem alguns dos elementos que fazem parte da tradição virtuosística do piano.

“Prelude” (nome do disco) marca um começo. Tal como o nome indica, é uma peça musical breve, que geralmente é tocada como introdução para uma maior – que ficou por ouvir. E ficamos com imensa vontade de ouvir mais, saber para onde é que esta fórmula irá, quanto tempo é que aguentará assim, como é que poderá evoluir. Resta-nos esperar.

Faixa

1. Illusion 35:11

Fonte: Gonçalo Falcão (jazz.pt)

 

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