Disco de
estreia de uma jovem pianista, com uma só música: em vez da sofreguidão própria
de quem começa e quer mostrar o seu trabalho, Rebeka Rusjan Zajc edita uma só
peça de 35 minutos, muito boa.
A primeira
audição remete-nos para o século XIX e para um Scriabin que saiu do armário e
se soltou. Podemos também pensar em Keith Jarrett, se resolvesse fazer
meia-hora das curtas divagações que usa quando está à procura de uma ideia, a
passar de uma para outra.
O solo da
pianista eslovena é feito de uma pequena massa sonora, sem extremos. Penso na
música como se o cubo de Rubik fosse um poliedro complexo, com 20 faces, que
estivesse a ser laboriosamente rodado à procura de cores e padrões
interessantes, sem qualquer intenção de o resolver como puzzle. Quase como um
divertimento de notas, quase sempre dentro de duas ou três oitavas contíguas,
centrais, que estão em profunda agitação e que se entrelaçam, surgindo à
superfície, mergulhando, num movimento circular. A música é serena, por vezes
pausa para respirar. Não há dinâmicas extremadas e usa apenas uma pequena parte
do teclado.
Estamos nas
fronteiras entre a improvisação abstrata, o jazz e a música contemporânea. E é
também necessário dizer que, ao trabalhar desta forma, num mundo pequeno e
sempre da mesma maneira, a pianista cria consistência e um ideolecto que a
distingue, sem dramatismos, sem emotividades extremadas, sem alguns dos
elementos que fazem parte da tradição virtuosística do piano.
“Prelude” (nome
do disco) marca um começo. Tal como o nome indica, é uma peça musical breve,
que geralmente é tocada como introdução para uma maior – que ficou por ouvir. E
ficamos com imensa vontade de ouvir mais, saber para onde é que esta fórmula
irá, quanto tempo é que aguentará assim, como é que poderá evoluir. Resta-nos
esperar.
Faixa
1. Illusion
35:11
Fonte: Gonçalo Falcão (jazz.pt)
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