Há uma estória, possivelmente apócrifa, sobre um jovem
saxofonista tenor que, depois de alguma pressão de um amigo, foi persuadido a
se aventurar no palco e participar de uma jam session ao lado de Coleman
Hawkins. Depois, o músico foi questionado por seu amigo se ele havia gostado da
experiência. "Foi OK" ele disse, " mas Coleman Hawkins me
assustou muito". O amigo dele respondeu: "Coleman Hawkins deve te
assustar bastante".
Hawkins fez sua façanha assustando em duas frentes: como um
saxofonista tecnicamente virtuoso e como um navegador mestre das progressões de
acordes que eram a base harmônica das músicas de espetáculos e padrões que
compunham o repertório dos músicos de jazz de sua época. Porém, durante os anos
finais de Hawkins, no final dos anos 1960, a proficiência técnica e domínio das
mudanças não era mais rigorosos. Os chamados "instrumentistas de
energia" sobreviveram com intensidade emocional. Outros músicos
"legítimos" trocaram as progressões harmônicas por modos, o que na
verdade significava tocar apenas um acorde, talvez dois, ao longo de uma peça.
Claro, as mudanças nunca foram embora. Porém, em 2024 eles
foram mais uma vez rodeados por músicos que preferem circular livremente pelos
modos em vez de aderir a mapas de rotas pré-determinados. Pense em grande parte
da cena do jazz underground de Londres ou de Chicago do falecido e
grande Jamie Branch. Outros músicos ainda favorecem às mudanças. Dois deles são
o saxofonista tenor Alex Hendriksen e o baixista Fabian Gisler, cujo “The Song
Is You (Ezz-thetics, 2019)” é uma brincadeira do século 21 através de um
cancioneiro do século 20 escrito por Billy Strayhorn, Thelonious Monk, Michel
Legrand, Victor Young, Harry Warren e Richard A. Whiting.
Hendriksen e Gisler invocam outro lote de mágica em “Lotus
Blossom” com um repertório escrito. A diferença desta vez é a presença do
baterista, totalmente moderno, Paul Amereller, cuja contribuição eleva o novo
álbum a um nível acima do seu antecessor, pelo menos nesta freguesia. Os compositores são Strayhorn (quatro
músicas), Monk, Young, Warren, Tadd Dameron, Benny Golson, Eddie DeLange/Louis Alter,
David Mann/Bob Hilliard e Jerome Kern/Oscar Hammerstein.
Eles não escrevem (ou talvez escrevam) mais assim. Mas,
felizmente, eles ainda tocam.
Faixas: In
The Wee Small Hours Of The Morning; Soultrane; Golden Earrings; Lotus Blossom; I
Remember Clifford; Johnny Come Lately; A Flower Is A Lovesome Thing; Do You
Know What It Means To Miss New Orleans; Nobody Else But Me; Day Dream;
Introspection; I Wish I Knew.
Músicos: Alex Hendriksen (saxofone tenor); Fabian Gisler
(baixo acústico); Paul Amereller (bateria).
Fonte: Chris
May (AllAboutJazz)
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