Há certos instrumentos que lutaram por atenção ao longo dos
anos, quando a ecologia do jazz foi uma reserva esmagadoramente masculina — ou
melhor, quando muitos homens perceberam que o jazz era uma área masculina e
heterossexual, bota macho alfa nisto. A prova A, a flauta, foi descrita por um
importante saxofonista alto masculino, um contemporâneo de Charlie Parker que
faleceu em 2010, como "um instrumento afeminado". Ele não estava
sozinho em sua opinião. A prova B, a harpa, foi, e continua a ser, ignorada por
músicos masculinos de forma ainda mais abrangente do que a flauta jamais foi. Todos
harpistas de jazz de destaque têm sido mulheres e o seu trabalho têm sido, de
um modo geral, marginalizados em vez de celebrados.
A exceção é a regra, Alice Coltrane, foi festejada pelo
público e pela mídia, ao menos em parte, por causa do seu casamento com John
Coltrane (e mesmo assim, a misoginia muitas vezes poderia ser detectada fora
das câmeras). Dorothy Ashby merecia ser uma exceção também, mas seus seguidores
permanecem estritamente de nicho. Uma proeminente harpista moderna de Nova
York, falando à AAJ em 2022 para uma entrevista ainda não publicada, fervia de
exasperação ao argumentar que o perfil estrelado de Alice Coltrane havia
ofuscado as conquistas musicais de Ashby, quem ela considerava o instrumentista
historicamente mais significativo, suas execuções de notas únicas semelhantes a
instrumentos de sopro estendendo a paleta da harpa além de acordes de bloco e
glissandos.
Ashby lançou uma dúzia de álbuns entre 1957 e 1984 (ela
faleceu em 1986 com apenas 53 anos). O ambiciosamente concebido, parte
orquestral Afro-Harping (originalmente lançado em 1968) foi o oitavo
deles e o primeiro de três que Ashby fez para o selo de blues Chess,
subsidiária de Chicago, Cadet, com o produtor Richard Evans. Muito antes de se
tornar moda fazê-lo, Cadet gostava de misturar as fronteiras entre os gêneros
musicais. Às vezes, o empreendimento foi bem-sucedido, assim como o álbum
homônimo de 1968 do grupo de soul psicodélico Rotary Connection. Às vezes, exagerou,
como aconteceu com o álbum “The Howlin' Wolf (1969)”, mergulhado em ácido de
Howlin' Wolf, que o próprio Wolf descreveu como "merda de cachorro". Às
vezes, oscilava entre o sucesso e o fracasso, como acontece com “Electric Mud”
de Muddy Waters (1968), feito com membros do Rotary Connection.
“Afro-Harping”, outro disco de gênero cruzado, apresentou
Ashby em algumas faixas em frente a cordas consideráveis, metais e palhetas
arranjadas e conduzidas por Evans e com infusões de funk ao longo do trabalho (e
toque um ou dois theremin [NT: é um dos primeiros
instrumentos musicais completamente eletrônicos, controlado sem qualquer
contato físico pelo músico] para garantir). Foi um sucesso artístico,
mas, até ser descoberto por rappers e samplers na década de 1990, um fracasso
comercial. No lançamento foi rejeitado por grande parte do público existente de
Ashby, construída através de seus primeiros álbuns de pequenos grupos na
Prestige e Atlantic e como acompanhante de líderes como Stanley Turrentine,
Sonny Criss e Freddie Hubbard. O público mais amplo do jazz do final dos anos
1960 e 1970 ignorou-o, assim como ignorou os trabalhos anteriores de Ashby.
O álbum dá saltos artísticos ousados e quase sempre cai de
pé. A faixa de abertura "Soul Vibrations" é um prenúncio do tipo de
funk cinematográfico que só tomou forma plena duas décadas depois, tornando
apropriado que Ashby tenha sido posteriormente ouvido em “The Poet II (Beverly
Glen, 1984)”, carregado de cordas de Bobby Womack. "Afro-Harping" de
Ashby e Phil Upchurch e outras faixas são pesadamente infundidas de funk.
"Theme From Valley Of The Dolls" e a com toque de bossa"Lonely
Girl" são mais pop. Mas onde quer que Evans leve as músicas - quatro delas
originais de Ashby, outras de Hubbard, Burt Bacharach, Neil Hefti e André e
Dory Previn - os solos de Ashby permanecem solidamente dentro da tradição do
jazz.
A Deluxe Edition da Verve inclui oito versões alternativas,
incluindo versões estendidas de "Afro-Harping" e "Little
Sunflower" de Hubbard. Estes irão encantar os seguidores de Ashby, assim
como o livreto assiduamente pesquisado. Esperamos que o lançamento desperte
interesse no espectro mais amplo do legado de Ashby. A audição adicional
recomendada inclui “The Jazz Harpist (Regent, 1957)” e “Hip Harp (Prestige,
1958)”, ambos feitos com uma lista de quartetos de alto nível, incluindo o
flautista Frank Wess, e no outro extremo da carreira de Ashby, o feliz “Concierto
de Aranjuez (Philips, 1984)”, que contém uma versão de "Autumn
Leaves" de Joseph Kosma que está entre as mais belas já gravadas.
Pós-escrito: Pessoal e instrumentação em “Afro-Harping” são
desconhecidos, mas o que parece muito com um órgão Wurlitzer leva um breve solo
de 1:40 na faixa-título. Mais ou menos um ano depois, Alice Coltrane adotou o
órgão Wurlitzer, que se tornou a peça central de sua música a partir de 1971. Apenas dizendo.
Faixas: Soul
Vibrations; Games; Action Line; Lonely Girl; Life Has Its Trials; Afro-Harping;
Little Sunflower; Theme From Valley Of The Dolls; Come Live With Me; The Look
Of Love; Action Line Master A, Take 2; Afro-Harping Alt. Take; Theme From
Valley of The Dolls Master B, Take 2; Lonely Girl, Master G, Take 1; Soul
Vibrations Alt. Take;Life Has Its Trials Master C, Take 2; Little Sunflower
Master F, Take 3; Theme From Valley of the Dolls Master B, Take 6.
Músicos: Dorothy Ashby (harpa); Orquestra regida por Richard
Evans.
Fonte: Chris
May (AllAboutJazz)
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