O que levou o pianista e compositor Antônio Adolfo a gravar,
em 2025, um álbum de canções da 'época de ouro' do carnaval brasileiro, por
volta de 1920-1950? Ele conhece e ama essa música desde criança, crescendo no
Rio de Janeiro. “Todas essas músicas estão muito vivas na minha memória”, disse
ele ao All About Jazz. Elas estavam “em todo lugar – no rádio, nas ruas, em
clubes sociais". Na época, ele viu que "havia alguma magia nas
melodias", mas ele "apenas ouvia e cantava, como qualquer
pessoa". Mais tarde, quando adolescente, ele escolhia as músicas no piano,
"mas nunca imaginou que um dia faria um álbum". Sua primeira incursão
no repertório resultou em um lindo álbum de piano solo cheio de saudade lançado
no Brasil, “Carnaval Piano Blues, (Kuarup Discos, 2005)”, que não está mais em
circulação.
A vida profissional de Adolfo, que começou no início da
década de 1960, está associada à 'segunda geração' de compositores e
instrumentistas da bossa nova, mas sua discografia abrange uma ampla gama de
idiomas brasileiros e jazzísticos, do choro a Wayne Shorter e muito mais. Ele
tem sido fluentemente bimusical há muito tempo, tendo o jazz como sua segunda
língua. As canções de carnaval constituem uma parte importante de sua língua
nativa, mas ele só começou a conceber “Carnaval”, o álbum, mais recentemente. Ao
revisitar o material, a abordagem que ele buscou foi aquela em que ele foi
capaz de "combinar toda a minha experiência musical e todas as minhas
influências musicais". Ele fez isso muito bem aqui, criando arranjos ricos
em harmonias de jazz e — com seus companheiros de banda — sensações rítmicas
que são ao mesmo tempo sólidas e fluidas como água. A música é impregnada pela
beleza da bossa-nova em aquarela e pelo ritmo do samba, mas com uma pitada do
otimismo do jazz de big band. Esta é
uma interpretação profundamente pessoal de uma era culturalmente significativa,
feita por um artista maduro e com poderes criativos aprimorados ao longo de uma
carreira de seis décadas no jazz e na música brasileira.
A performance é fortalecida pelos laços que ele e seu grupo
desenvolveram ao longo dos anos, especialmente com sua seção rítmica, o
baterista Rafael Barata e o baixista Jorge Helder, e o flautista-saxofonista
Marcelo Martins, com quem gravou vários trabalhos, juntamente com o
trompetista-flugelhornista Jesse Sadoc, o violonista Lula Galvão, o
percussionista André Siqueira, o trombonista Rafael Rocha e o saxofonista alto
Idriss Boudrioua. As misturas de metais são quentes e os solos são finamente
gravados e genuínos, com a flauta de Martins vindo direto e atingindo o coração
em canções como "As Pastorinhas" (Braguinha e Noel Rosa), assim como
seu tenor em "Vai Passar" (Francis Hime e Chico Buarque).
Cada membro da banda tem momentos em que brilham, do
elegante número de abertura com o trio de piano, "É Com Esse Que Eu
Vou" de Pedro Caetano até o final, "Agora É Cinza", de Bide e
Marçal, que encerra o programa com uma nota reflexiva, olhando para trás
enquanto as celebrações terminam na Quarta-feira de Cinzas. Adolfo mantém tudo
junto com seu toque suave ao piano e com a caneta. As canções eram realmente
lindas naquela época, e sua beleza, polida pelas areias do tempo e pelas mãos
capazes desta banda, só aumentou.
Faixas: É Com Esse Que Eu Vou (I'm Going With This One);
Vassourinhas (Vassourinhas Carnaval Group); Oba (Breath of the Jaguar);
Mal-Me-Quer (She Loves Me, She Loves Me Not); Vai Passar (It's Going To Be OK);
As Pastorinhas (Girl Singers of Carnaval); Exaltação À Mangueira (Ode to
Mangueira); A Lua É Dos Namorados (The Moon Belongs to Lovers); Agora É Cinza
(Now It Is Ashes).
Músicos: Antônio Adolfo (piano); Lula Galvão (violão); Jorge
Helder (baixo acústico); Rafael Barata (bateria); Jesse Sadoc (trompete);
Idriss Boudrioua (saxofone alto); Marcelo Martins (flauta, saxofone); Rafael Rocha
(trombone); André Siqueira (percussão).
Fonte: Katchie
Cartwright (AllAboutJazz)
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