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terça-feira, 22 de janeiro de 2008

JAZZ NA ENCRUZILHADA (A TARDE - 20 JAN 2008)

"Garçom, dá pra pedir para baixar o volume da banda que está atrapalhando o jantar?".
A solicitação ainda é comum em muitos espaços que contratam músicos para tocar jazz e música instrumental ao vivo.Para quem é músico, o que existe é a perplexidade diante da luta para abrir pequenas trincheiras que lhe permitam fazer o que gosta e, para o público que ama o gênero, resta a tarefa de consultar os roteiros culturais para descobrir, ocasionalmente, alguma temporada ou apresentação única.Ao contrário desse cenário, há cinco meses, não importando em que fase a lua esteja, um público diversificado se dirige todos os sábados para o Museu de Arte Moderna da Bahia (Av.Contorno), onde acontece o projeto Jam no MAM.No último dia 12, lua nova, não foi diferente: 2.300 pessoas estavam lá. Com ingressos a R$ 2, o evento contradiz as idéias feitas de que na Bahia não há público para o jazz .Os altos e baixos da cena jazzística em Salvador vêm desde o final dos anos 70, quando, no antigo Vagão, bar situado no Rio Vermelho, músicos começaram a experimentar tocar juntos com o propósito de fazer jazz e improvisar. De acordo com o trompetista Joatan Nascimento, nos anos 80 o movimento se firmou, para sofrer um abalo na década seguinte."Nos anos 90, com a consolidação do axé, muitos bares fecharam e muitos músicos migraram para essas bandas", diz ele, reconhecendo que nos anos 80 ninguém ganhava dinheiro com música por aqui. E apesar da volta das sessões do MAM-BA, suspensas em 2001, Nascimento diz que houve uma retração dos lugares disponíveis para se tocar e ouvir jazz.UM DIA NA SEMANA –O guitarrista Chico Oliveira, 31, é um dos que batalham para dar gás à cena instrumental e concorda que atualmente há poucos espaços para se tocar uma música diferenciada da de Carnaval, com o agravante de que os locais que abrem esse espaço oferecem apenas um dia da semana. "Por não haver casas específicas para o jazz, os projetos não se consolidam nem se fideliza o público", afirma.O proprietário do restaurante Extudo (Rio Vermelho), Fernando Ferrero, também confirma que já houve mais casas para o jazz em Salvador e aponta a Lei do Silêncio como a responsável pela retração e perda de espaços para os músicos e público."Muita gente deixou de fazer para evitar problemas com a Prefeitura". De acordo com a lei, em vigor desde 1998, o volume de som deve chegar a até 70 decibéis, das 7 às 22 horas e no máximo a 60 decibéis, das 22 às 7 horas. Multas para quem ultrapasse em 45 decibéis os limites de cada turno, podem variar de R$ 481 a R$ 80 mil.Ferrero acredita que a situação também tem a ver com a cultura local, em que o costume é assistir a shows em barzinhos, e a preferência dos baianos por lugares abertos e ventilados. Ele é categórico: as casas fechadas não funcionam em Salvador.O gestor da Jam no MAM, o baterista Ivan Huol, diz que chamar os bares e restaurantes existentes de ‘casas de jazz’ é um eufemismo quando se quer dizer que são sofisticadas e limpas."É preciso que a música ao vivo esteja no lugar certo e tenha o status que merece”, defende. A realidade para os músicos de Salvador, entretanto, não é nada sonora: "Fora da Jam , é desespero total: pouco público, cachês baixos e não há lugar para se tocar com liberdade e com público para verdadeiramente ouvir".

Marcos Dias (mdias@grupoatarde.com.br)

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