
Músico, que viveu no Rio nos anos 40, morreu em Paris, vítima de um aneurisma.
Tratado por parte da imprensa francesa como "criador da bossa nova", Salvador negou o título em entrevista à Folha em 2007
DA REPORTAGEM LOCAL FOLHA DE SÃO PAULO
Um dos mais importantes nomes da tradicional música francesa e amante da música brasileira -morou e se apresentou no Rio entre 1942 e 1945-, o cantor e compositor francês Henri Salvador morreu ontem, aos 90 anos, em Paris, vítima de um aneurisma, segundo divulgou sua gravadora. Nascido na Guiana Francesa, Salvador era famoso por sua voz macia ("Eu não canto, sussurro", disse em entrevista à Associated Press, em 2006), sua risada escancarada e sua longevidade: fez sua última apresentação ao vivo em dezembro passado, em Paris, e, segundo sua gravadora, planejava lançar um novo álbum neste ano.
O presidente da França, Nicolas Sarkozy, que esteve na terra natal do músico anteontem, em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, disse que Salvador habitava "o cruzamento do jazz com a "chanson" e a bossa nova, da Europa com as Américas".
Prolífico como intérprete e compositor -passou pelo jazz, blues, rock e pela tradicional "chanson française"-, Salvador mudou-se com sua família para a França aos 7 anos e se apaixonou por música aos 12, após ouvir discos de Duke Ellington e Louis Armstong. Ganhou um violão do pai e tornou-se autodidata, participando de seu primeiro show aos 17 anos, com uma orquestra -seguiria com elas por quase uma década, até se lançar como cantor solo após sua temporada morando no Rio.
No Brasil
Após servir no Exército francês, Salvador integrou-se à banda de Ray Ventura em uma turnê sul-americana, em 1938. O grupo fez uma temporada no hotel Copacabana Palace, no Rio, e Salvador decidiu ficar na cidade, onde construiu uma reputação tocando no célebre Cassino da Urca.
Após a Segunda Guerra Mundial, o músico voltou à Europa e fez uma célebre dupla com Boris Vian, que seria considerada a introdutora do rock na França, a partir do hit "Rock and Roll Mops".
Sua ligação com o Brasil voltou a ser exaltada a partir da gravação de "Dans Mon Île", em 1957. A canção foi várias vezes creditada, por parte da imprensa francesa e pelo próprio Salvador, como inspiradora da criação da bossa nova, pois teria sido após ouvi-la que Tom Jobim teria tido a idéia de desacelerar o "tempo" do samba.
O escritor e colunista da Folha Ruy Castro, autor do livro definitivo sobre o movimento musical ("Chega de Saudade"), diz que a relação de Salvador com o ritmo nacional é exatamente a oposta:
"Ele sempre se alimentou da música brasileira, não o contrário".
"Em 1957, Tom Jobim já estava fazendo suas canções há muito tempo", diz Castro. "Sempre gostei dele, tenho vários discos, mas sempre achei um pouco cretina essa coisa de ele se beneficiar como inventor da bossa nova."
Em entrevista à Folha em março passado, Salvador, no entanto, negou o título de "criador da bossa nova". "Não gosto que digam isso. Não sou capaz, sou um pequeno compositor comparado a Jobim. Sou um pequeno melodista francês. Jobim é gigante."
O francês, que recebeu, em 2005, a Ordem do Mérito Cultural entregue pelo presidente Lula e pelo ministro Gilberto Gil (Cultura), também disse que o ritmo brasileiro "foi muito importante" em sua carreira.
Seu último disco, "Révérence" (2007) -que tem uma versão em francês de "Eu Sei que Vou te Amar"-, foi gravado no Rio, com o maestro e arranjador Jacques Morelenbaum.
2 comentários:
Eu acho falso, injusto e mesmo tendencioso declarar que Henri Salvador foi um inspirador da bossa-nova. Dizer algo assim demonstra uma total falta de informação acerca do que foi o movimento da bossa-nova. A música de Salvador é típica de um "créolle" – com o seu ritmo e sensibilidade próprios – que adotou a língua e o estilo da canção francesa. Se ele fosse mesmo o "inspirador" da bossa-nova (como o querem alguns jornalistas francês por esses dias) ele teria reinvidicado isto em vida, coisa que nunca fez. E não seria por medo do ridículo – um tipo de medo, por sinal, que francês nenhum tem. Seria porque não teria o menor cabimento nem histórico e menos ainda estético.
A bossa-nova foi uma criação 100% brasileira, carioca da zona sul, inspirada harmônicamente no "cool jazz" dos anos 40-50 e apoiada em um ritmo derivado do samba. Ritmo este que foi sendo aos poucos desenvolvido e, mesmo que exista já um ritmo bossa-nova standard a nível internacional, que guarda ainda características de estilo segundo certos intérpretes (João Gilberto, Baden Powell, Tom Jobim, Luís Eça e Laurindo de Almeida, entre tantos outros).
Também não foi no Rio de Janeiro que surgiu a bossa - nova. Acaba com essa invenção. A bossa-nova teve o seu início na Bahia, com João Gilberto, reverenciado, como o papa da bossa nova, ela , apenas, ganhou corpo no Rio com compositores que não tinham mais o que fazer para vencer o Rok. Com a chegada do bom baiano, com o genial toque do violão, inspirou toda aquela turma de bons compositores, que até hoje ganham muito dinheiro com essa nova forma de cantar e de instrumentar. Deixa dessa cariocada!.....
Postar um comentário