Considero o ano de 2010 muito bom para a música na Bahia, no que se refere àquele campo que foge aos mega eventos dançantes. Faremos um modesto balanço do que tivemos por aqui, que considero relevante:
SEGUNDA É DO MÚSICO
Em 06/12 tivemos a última apresentação deste ano do projeto "Segunda é do Músico" com o grupo "Um Quarto de Tom" e o saxofonista e flautista Carlos Malta como convidado. A previsão era que no dia 13/12 teríamos uma jam session para encerrar as atividades do projeto neste ano, mas não foi possível. na mensagem dos organizadores ficou um até logo e não um adeus. Que todos os santos da Bahia digam: Amén
Consideramos esse projeto como um dos mais importantes ocorridos no cenário da música instrumental da Bahia em 2010. Tiramos o chapéu para os músicos Gerson Silva (guitarrista) e Tito Oliveira (baterista), que junto a uma equipe dedicada e apoiadores, mas sem patrocínio, conseguiram viabilizá-lo. A ideia era utilizar as segundas-feiras, dia em que normalmente os músicos folgam, para que se apresentassem com suas bandas, tendo como convidado um instrumentista de outro Estado. Antecedendo as apresentações ocorria um bate-papo com outros artistas locais ou técnicos da área da música para troca de experiências. O preço foi de módicos R$ 10,00
A primeira apresentação ocorreu no Galpão Cheio de Assuntos localizado na Rua Djalma Dutra com a apresentação da Orquestra Rumpilezz sob o comando de Letieres Leite (na foto). Recentemente este grupo ganhou dois prêmios no 21° Prêmio da Música Instrumental Brasileira : Melhor Grupo de Música Instrumental e Revelação do Ano. O convidado da noite foi Leo Gandelman. Na segunda -feira seguinte tivemos Maria Mitouzo, que faz um som original conforme atestou o convidado da noite, o saxofonista
Marcelo Martins, que depois se agregou à Banda Bahia Soul e junto com André Becker não deixou pedra sobre pedra .Vejam no vídeo a seguir uma pequena amostra do que ocorreu (http://www.youtube.com/watch?v=RTkY4-fw5xc&feature=related).
As segundas foram vindo e com elas grupos locais que não conhecíamos, e cujo talento necessitavam de espaço para exibirem seu trabalho. Importante ressaltar que são bandas que apresentam composições próprias e não são meros covers de bandas de jazz ou grupos de música instrumental de outros locais. Assim, tivemos a Banda Transcendental com o baixista Nei Conceição. A partir daí os shows passaram a ser em praças do Pelourinho. Vieram, então :
O guitarrista Alex Mesquita com o baterista Kiko Freitas (http://www.youtube.com/watch?v=5BskAlJ7UT8&feature=related)
Orquestra Afro Sinfônica com o baixista Sizão Machado;
Márcio Dhiniz e o tecladista Paulo Calasans;
Grupo Garagem e o tecladista Fábio Torres(http://www.youtube.com/watch?v=qGHxkI3OD1o&feature=related)
Letieres Leite e Quinteto com o baixista Arthur Maia (http://www.youtube.com/watch?v=H7WDj024dlE&feature=related)
Banda UFOnia comandada pelo baixista Luciano Calazans e Robertinho Silva (http://www.youtube.com/watch?v=ZvXFYitFqZM&feature=related)
O guitarrista argentino Diego Bruno, já incorporado ao nosso cenário musical , e o baixista Thiago do Espírito Santo;
O guitarrista Jurandir Santana e o baixista Marcelo Mariano (http://www.youtube.com/watch?v=kqqiyn2IhOI)
Mondicá Trio e o baterista Edu Ribeiro;
O grupo original formado por dois baixos e uma percuteria , Fa e a Clave com o baixista Serginho Groove;
O percussionisa Emerson Taquari e o guitarrista Ricardo Silveira,
HV Quarteto do baterista argentino Hernán, outro argentino integrado ao cenário musical (neste
dia o convidado seria o saxofonista Ademir Júnior da Brasília Big Band, que por causa de uma crise renal não pode comparecer).
FESTIVAL DE JAZZ NO CAPÃO
Tivemos, também, nos dias 04 e 05 de Junho o Festival de Jazz do Capão com a presença do Grupo Garagem. Toninho Horta, Hermeto Pascoal, Orquestra Rumpilezz,Banda de Boca o Coral e o Grupo Instrumental do Capão, inclusive com a promoção wokshops. Para 2011 já está prevista a 2a. edição do evento. Carlos Malta em sua apresentação no projeto Segunda É do Músico confirmou sua presença
com o seu grupo "Pife Muderno"
MERCADO CULTURAL
Outro evento importante foi o Mercado Cultural, que há dez anos enriquece o cenário cultural de Salvador, e desde o ano passado vem se interiorizando com a chamada Caravana Cultural, que abarcou as cidades de Ibiritaia, Dario Meira , Valentim, Boa Nova e Vitória da Conquista. O tema deste ano foi "Utopia para um futuro presente". A ideia é envolver as comunidades locais com diversas manifestações culturais, possibilitando-lhes conhecer trabalhos de outros locais e apresentar as suas. Ater-me-ei à parte musical onde foram apresentadas manifestações de diversos países como Espanha, Áustria, Marrocos, Guiana Francesa, Cabo Verde, Coreia. Do Brasil vieram artistas do Ceará, São Paulo, Minas Gerais, Paraíba e Rio de Janeiro. Infelizmente não pude assistir a todos os espetáculos, o que exige tempo e um adequado planejamento. Consegui assistir ao grupo coreano "Geomungo Factory", formado por jovens músicos que tocam um instrumento de cordas tradicional da Coreia, que dá nome grupo, mas que eles modernizaram. Conseguem sintetizar a música tradicional deste instrumento, datado do século XVI, e a música moderna. Uma apresentação encantadora que contou com a participação especial de José Sapopemba, um alagoano de Penedo que reside em São Paulo, e divide seu tempo entre cantorias e viagens pelo Brasil como motorista de caminhão. A apresentação dele, junto com o violonista Camilo Carrara e o Geomungo deixou a plateia levitando. Outra participação especial foi a do percussionista cearense Igor, primeiro músico brasileiro que o pessoal do Geomungo conheceu no país. Ele veio especialmente de Fortaleza para dar esta "canja". Após o Geomungo, veio a banda local BaianaSystem, que tem a guitarra baiana, aquela que deu partida à era dos trios elétricos e carnavais, como instrumento central. É uma mistura de ritmos como reggae, axé music, rap (há um vocalista com letras que tratam da nossa realidade), música eletrônica (há a incorporação de um DJ), que bota a turma para dançar sem precisar gritar "sai do chão" ou "sacode as mãozinhas para cima" .Outra surpresa interessante foi o cantor,compositor, professor de teoria musical e autor de trilhas para teatro e dança, Kristoff Silva, mineiro, que apresenta uma música com letras e arranjos bastante elaborados, além de ter uma bela voz, e tem uma banda competente, que seguramente deve conhecer bem o jazz. Já Tiganá Santana, que havia conhecido em um show do guitarrista Mou Brasil, em uma participação especial onde cantava uma composição dele e de Mou, em inglês, confirmou as minhas expectativas. Ele tem toda uma formação musical popular ligada ao candomblé. Compõe em português, inglês e é o único artista brasileiro a compor em lingua africana. Possui um disco lançado. Sua voz é belíssima e tem na sua banda o baixista Ldson Galter e o guitarrista Luiz Brasil, que faz a direção musical, aliada a uma percussão competentíssima. Convidou para subir ao palco componentes do Ilê Aiyê, cuja comunidade faz parte do seu portfólio cultural e junto deram um espetáculo de musicalidade, que aliás é uma tônica das suas composições. Para fechar o ciclo do "Mercado Cultural" assisti ao grupo marroquino Oudaden, que faz um mix sonoro entre instrumentos tradicionais e outros mais modenos como banjo e guitarra elétrica. Em seguida veio a brilhante apresentação de Egberto Gismonti e a Orquestra de Sopros Pró Arte. Esta, foi fundada pela flautista Tina Pereira, falecida em 2008, e é formada por jovens que se dedicam a interpretar músicas de Radamés Gnattali, Moacir Santos, Tom Jobim, Baden Powell e Hermeto Pascoal. Recentemente gravou um álbum com músicas de Gismonti, que regeu a Orquestra, além de fazer maravilhosas performances solo. Espetáculo de indescritível beleza. No final do show, graças ao dinamismo de nosso companheiro Felipe Sancho, Egberto Gismonti foi agraciado com um diploma da SOJAZZ em reconhecimento à sua obra.
JAZZ NO PELÔ
Tivemos a primeira edição do projeto “Dia do Jazz no Pelô”, que desde o mês de junho trouxe, às quartas -feiras, a música instrumental para o Largo Pedro Arcanjo, no Pelourinho. O projeto obteve grande êxito e contou com a participação de importantes nomes da música instrumental como Joatan Nascimento, Triat’uan, Márcio Diniz, Dom Lula Nascimento, Luciano Calazans e banda Ufonia, Amadeu Alves, Babilak Bah, Aderbal Duarte e Franklin Negrão, além de novos talentos como os grupos Nóis Três, Saravá Jazz Trio, TupiFazTudo, Quarteto Contraste, Terno de Ás e os recifenses da Banda de Joseph Tourton, DuoSense, Grupo Garagem , Tamima & Itapuã Beat e Letieres Leite & Quinteto.
Esta foi uma realização do Coletivo de Música da Cufa Itapuã, com coordenação de Analu Franca, e contou com o apoio do Pelourinho Cultural, programa da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, sendo seu acesso gratuito.
FESTIVAL DE MÚSICA INSTRUMENTAL DA BAHIA
Neste ano o festival ocorreu nas cidades de Cachoeira e Jequié, no que foi intitulado “ I Festival de Música Instrumental do Interior da Bahia “ . A curadoria continuou com o músico, maestro e compositor Zeca Freitas e Fernando Marinho ator e pianista, responsáveis pelo tradicional evento realizado em Salvador.
O I Festival de Música Instrumental do Interior da Bahia é um evento inédito que, nos dias 3,4 e 5 de dezembro, movimentou a cidade de Cachoeira, utilizando como palco o CAHL - Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo . Nos dias 17,18 19, Jequié , no sudoeste do Estado, no Centro de Cultura ACM, sediou o evento.
Foi levada ao palco uma programação diversificada e de qualidade com ingressos a preço simbólico de R $ 2, (inteira) e R$ 1, (meia). O Festival teve o patrocínio da Petrobras e do Ministério da Cultura com o apoio financeiro do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, a exemplo do que ocorreu com o Mercado Cultural. Foi uma realização da Associação Instrumental da Bahia.
Com três shows por noite, cada cidade recebeu o total de nove atrações musicais. Além de uma exposição multimídia sobre as 16 edições do Festival de Música Instrumental da Bahia - a partir dos anos 80 até os grandes espetáculos no Teatro Castro Alves, a programação reuniu artistas locais das duas regiões e localidades circunvizinhas. De Salvador tivemos o Grupo de Percussão da UFBA e Aroldo Macedo (Homenagem aos 60 anos do trio elétrico); o contrabaixista Luciano Calazans; Grupo Mandaia e a Banda de Boca.
No campo de convidados especiais tivemos o saxofonista Leo Gandelman, o baterista e percussionista Robertinho Silva e Ronaldo do Bandolim (do trio Madeira Brasil). Em cada noite, a abertura esteve a cargo de uma filarmônica local, em homenagem a uma das mais tradicionais e populares manifestações musicais das cidades do interior.
Deixemos nas palavras de Fernando Marinho, as explicações sobre o evento :
“ O Festival está para a valorização e a divulgação da música instrumental nos seus inúmeros gêneros e estilos, como o jazz, blues, chorinho, o dobrado, samba, baião, rock, bossa nova, frevo, música erudita, e a música experimental, entre outros.Na seleção das atrações exclusivas do interior da Bahia (feita mediante inscrições encerradas em 12 de novembro), procuramos destacar a qualidade artística, a originalidade, a pesquisa sonora, as características de cada músico ou grupo, de modo a apresentar ao público uma vitrine bastante atraente daquilo que é produzido no campo da música instrumental na Bahia e no Brasil”.
PHOENIX JAZZ FESTIVAL –PRAIA DO FORTE
Este festival aconteceu no período de 10 a 12/12, em sua quarta edição. Neste ano as atrações foram Banda Blackwater (Irlanda), Armandinho e Yamandú Costa (vejam uma amostra do que realizaram por lá http://www.youtube.com/watch?v=d9qsGOgcLbI&feature=related); Phoenix Brasil Band formada por André Becker nos saxes e flauta; Joatan Nascimento, trompete e flugelhorn ;Luizinho Assis, teclados; Cesário Leone, baixo e Vitor Brasil,bateria; Gerônimo/Casco cabeça; A Cor do Som ; Dudu Lima Trio e Tucan Trio (Israel) formada por Hagai (violão), Amir Milstein (flauta) Joca Perpignan (percussão e voz), formada em 1998 em Tel Aviv, Israel. O grupo se dedica a diversos estilos e culturas , tendo especial carinho pela música brasileira. Para ter uma ideia, assistam a uma atuação do grupo com Armandinho em um Festival de jazz ocorrido em Israel (http://www.youtube.com/watch?v=lJeeZUXRe7Q)
NATAL REMIX
A segunda edição do Natal Remix obteve êxito com a Praça das Artes, no Pelorinho, apresentando alta frequência no período de 15 a 18/12. Por lá estiveram as bandas Camarones Orquestra Guitarrística e Retrofoguetes no dia 15. Já na noite seguinte (16), o show foi comandado por Jussara Silveira e Luiz Brasil e pela Orkestra Rumpillezz. Na sexta-feira (17), o público se encantou ao som de Livia Mattos,que conta com Jurandir Santana na guitarra e direção musical; e Toninho Ferragutti junto com o Quinteto da Paraíba. No último dia ocorrram as apresentações do duo de Moreno Veloso e Pedro Sá e Yamandu Costa e Hamilton de Holanda. Os primeiros a subir ao palco foram o cantor Moreno Veloso e o guitarrista Pedro Sá, encantando o público com uma voz melodiosa e uma rica sonoridade retirada dos seus instrumentos. A plateia deu um show à parte, acompanhando cada canção executada. Em seguida, teve início à esperada apresentação dos instrumentistas Yamandu Costa e Hamilton de Holanda, que fizeram um espetáculo baseado no álbum Luz da Aurora, fruto da parceria entre os músicos e que resgata e retrata as nossas raízes. Um show fantástico que deixou a plateia , eminentemente jovem, em silêncio reverenciando o que ouviam , apesar dos problemas do som , que os músicos tiraram de letra. E ainda houve bis. Intressante é que a dupla utilizou uma figura folclórica que circula pela noite do Pelourinho, vendendo seus livros de poemas, para vender seu CD ,que humoradamente disseram que tinham pirateado e estavam vendendo a R$ 10,00. Vendeu como água no deserto.
Nesta edição do Natal Remix, o projeto recebeu a Tenda Cult Solidária, utilizada para conscientizar as pessoas sobre o lixo eletrônico, cuja destinação apropriada é essencial para a preservação do meio ambiente.
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