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domingo, 31 de janeiro de 2016

MATANA ROBERTS - ALWAYS (2015)

O saxofone é possivelmente o instrumento musical que produz um som mais próximo da voz humana. Ouvindo um virtuoso saxofonista como Matana Roberts, alguém ouve apenas mais que respiração através de um instrumento de palheta. Sua gravação solo ”Always” viaja além da voz, para a mente, corpo e espírito.

Gravado em estúdio, sem o benefício de uma reflexão da plateia, a experiência é de um  voyeur aos mais privados pensamentos da saxofonista. Ofertado com excelente som a gravação reproduz os dedos nas chaves, a respiração dentro e fora dos pulmões, a arquitetura da disposição da cavidade nasal de Robert, costelas, diafragma, língua, dentes e lábios. Ouvindo “Always”, alguém pode desejar que Joe McPhee tivesse tido um espaço similar e esta tecnologia quando foi gravado “Tenor (Hatology)” em 1976 ou que John Coltrane pudesse ter reforçado sua sala de ensaio com o equipamento do século XXI.

Matana Roberts só com seus pensamentos produz, aqui, duas faixas sem título, a primeira com 33 minutos de longa duração e difícil percurso através dos vales da sua experiência. A segunda, um solavanco de 10 minutos com um pouco mais de músculo para um canto de sala. Esta gravação solo vem  nos calcanhares do seu solo, “Coin Coin Chapter 3 River Run Thee (Constellation, 2015)”, a terceira parte do seu projeto em 12 segmentos que explora sua história afroamericana e feminilidade. Como a série “Coin Coin” foi reduzida de uma orquestra para um pequeno grupo, a duplicação eletrônica de Roberts, palavras faladas e música para saxofone, esta sessão reduz-se para apenas o saxofone.

Como “Coin Coin” esta sessão é extraída das raízes da saxofonista na  AACM  em Chicago e gravações dos artistas associados Anthony Braxton e Roscoe Mitchell. Com a migração afroamericana para Chicago, Roberts soa como as origens no Sul. Ela inicia a jornada com simples notas claras, apresentadas em  camadas, como se estivesse construindo uma casa. Primeiro vem o alicerce do blues, então as paredes seguras e, então, a decoração colorida.  Roberts aplica toques da angulosidade de Thelonious Monk, o toque suave de Lester Young e salpicos de música folk.

A música, para se ter noção, é mais para os ouvidos dela ainda que para os ouvintes. Ela estabelece intencional esforço para fluir e a música reflete o mesmo. Sua abordagem é um movimento sinuoso em busca do tesouro. A segunda peça é mais curta pega o passo, como sua difícil viagem deve chegar em casa antes de cair a escuridão. Ela estabelece um enfoque mais assertivo. Mesmo sua respiração está mais urgente aqui. Sublinhando toda substância corpórea do seu ser. Esta essência da expressão do seu espírito é que brilha ao longo da gravação.

Faixas: Untitled N. 1; Untitled N. 2.

Gravadora: Relative Pitch Records

Estilo: Jazz Moderno


 Fonte: MARK CORROTO (AllAboutJazz)

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