O saxofone é possivelmente o instrumento musical que produz
um som mais próximo da voz humana. Ouvindo um virtuoso saxofonista como Matana
Roberts, alguém ouve apenas mais que respiração através de um instrumento de
palheta. Sua gravação solo ”Always” viaja além da voz, para a mente, corpo e
espírito.
Gravado em estúdio, sem o benefício de uma reflexão da
plateia, a experiência é de um voyeur aos mais privados pensamentos da saxofonista.
Ofertado com excelente som a gravação reproduz os dedos nas chaves, a
respiração dentro e fora dos pulmões, a arquitetura da disposição da cavidade
nasal de Robert, costelas, diafragma, língua, dentes e lábios. Ouvindo “Always”,
alguém pode desejar que Joe McPhee tivesse tido um espaço similar e esta
tecnologia quando foi gravado “Tenor (Hatology)” em 1976 ou que John Coltrane pudesse
ter reforçado sua sala de ensaio com o equipamento do século XXI.
Matana Roberts só com seus pensamentos produz, aqui, duas
faixas sem título, a primeira com 33 minutos de longa duração e difícil
percurso através dos vales da sua experiência. A segunda, um solavanco de 10 minutos
com um pouco mais de músculo para um canto de sala. Esta gravação solo vem nos calcanhares do seu solo, “Coin Coin
Chapter 3 River Run Thee (Constellation, 2015)”, a terceira parte do seu
projeto em 12 segmentos que explora sua história afroamericana e feminilidade. Como
a série “Coin Coin” foi reduzida de uma orquestra para um pequeno grupo, a
duplicação eletrônica de Roberts, palavras faladas e música para saxofone, esta
sessão reduz-se para apenas o saxofone.
Como “Coin Coin” esta sessão é extraída das raízes da saxofonista
na AACM
em Chicago e gravações dos artistas associados Anthony Braxton e Roscoe
Mitchell. Com a migração afroamericana para Chicago, Roberts soa como as
origens no Sul. Ela inicia a jornada com simples notas claras, apresentadas em camadas, como se estivesse construindo uma
casa. Primeiro vem o alicerce do blues, então as paredes seguras e, então, a
decoração colorida. Roberts aplica toques
da angulosidade de Thelonious Monk, o toque suave de Lester Young e salpicos de
música folk.
A música, para se ter noção, é mais para os ouvidos dela ainda
que para os ouvintes. Ela estabelece intencional esforço para fluir e a música
reflete o mesmo. Sua abordagem é um movimento sinuoso em busca do tesouro. A
segunda peça é mais curta pega o passo, como sua difícil viagem deve chegar em
casa antes de cair a escuridão. Ela estabelece um enfoque mais assertivo. Mesmo
sua respiração está mais urgente aqui. Sublinhando toda substância corpórea do
seu ser. Esta essência da expressão do seu espírito é que brilha ao longo da
gravação.
Faixas:
Untitled N. 1; Untitled N. 2.
Gravadora: Relative Pitch Records
Estilo: Jazz Moderno
Fonte: MARK CORROTO
(AllAboutJazz)
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