Cécile McLorin Salvant deve ter sido desmamada das
grandes cantoras de jazz, mas a vocalista neste sofisticado recital adulto,
deve mais ordenadamente às mensurações musicais do teatro do que à
espontaneidade nômade de um trabalho de jazz. Suas músicas, a maioria
reinterpretações, são ditas para endereçar as “complexidades” do amor. OK, mas
isto é uma rede grande o bastante para abarcar três quartos do grande
cancioneiro norte-americano. Mais especificamente, Salvant desenha canções de
alta qualidade do teatro e cabaret, apresentando-as com dinâmicas nuançadas e
expressiva precisão, que usa o jazz mais como cenário do que como uma
sensibilidade reinante.
De muitas formas,
Salvant é, primeiro, uma atriz. Ela sabe que atores são dependentes dos seus
papeis e que, para ela, a canção é o papel. Ela escolhe cuidadosamente, às
vezes inesperadamente, apesar de nem sempre com sucesso. Seu repertório mistura
a segurança do familiar com os riscos da obscuridade. Sim, explorando o passado
de joias esquecidas, que podem ser provocativas e uma jornada recompensadora. Porém,
também ensina, mais frequentemente que não, que há razões para obscuridade. Boas
músicas deslizam para as sombras de todos os tipos de razões, mais claras em
retrospecto. “Trouble Is A Man” de Alec Wilder sente-se como um poema carinhoso
cuja música parece uma reflexão tardia. “Wild Is Love” foi uma natimorta de um
álbum de 1960 de Nat “King” Cole, e apos uma dúzia de finas vocalistas falharem
em ressucitá-la. E “Ever Since The One I Love’s Been Gone” nunca cresce
completamente a partir do drama meticulosamente contornado que Salvant derrama,
embora sua ponte sugere “Come Sunday” de Duke Ellington.
No meio do programa,
majoritariamente, duetos, o pianista Sullivan Fortner espelha a dramática
projeção de Salvant. Sua habilidade para a extravagância pode mover-se de forma
espiralada dentro de crescendos de floreios rapsódicos. Porém, ele também
aprecia os contrastes. Ele desliza dentro e fora do tempo em solo longo em “Sweetest
Songs”, que é tão esperto quanto penetrante. Ele também pode lançar um sólido
mergulho no stride (NT: andar com
passos largos) (“By Myself”) ou um pouco de equilíbrio de Teddy Wilson
(“Everything I’ve Got Belongs To You”), quando a ocasião autoriza.
Todavia, Salvant faz
você ouví-la. A autoridade das suas performances compelem os ouvintes a apreciar
sua confiança no material, mesmo quando está frágil ou não familiar. Seu
alcance vocal e elasticidade claramente são feitos com material jazzísticos, mas,
por enquanto, é assunto para outra gravação. Aqui, o espaço vem a ser um teatro
intimista. Estranhamente, ainda que, o clímax do álbum seja um standard do jazz — “The Peacocks”de
Jimmy Rowles interpretado em longo e lento murmúrio, que vem a ser quase
espectral, quando o tenor de Melissa Aldana, adejante no passado, em
fortíssimas convergências.
Faixas: Visions; One
Step Ahead; By Myself; The Sweetest Sounds; Ever Since The One I Love’s Been
Gone: À Clef; Obsession; Wild Is Love; J’ai L’Cafard; Somewhere; The Gentleman
Is A Dope; Trouble Is A Man; Were Thine That Special Face; I’ve Got Your Number;
Tell Me Why; Everything I’ve Got Belongs To You; The Peacocks. (70:23)
Músicos: Cécile McLorin Salvant, vocal; Sullivan Fortner,
piano, órgão; Melissa Aldana, saxofone tenor (17).
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