playlist Music

quarta-feira, 11 de março de 2020

CÉCILE McLORIN SALVANT – THE WINDOW (Mack Avenue)

The WindowCécile McLorin Salvant deve ter sido desmamada das grandes cantoras de jazz, mas a vocalista neste sofisticado recital adulto, deve mais ordenadamente às mensurações musicais do teatro do que à espontaneidade nômade de um trabalho de jazz. Suas músicas, a maioria reinterpretações, são ditas para endereçar as “complexidades” do amor. OK, mas isto é uma rede grande o bastante para abarcar três quartos do grande cancioneiro norte-americano. Mais especificamente, Salvant desenha canções de alta qualidade do teatro e cabaret, apresentando-as com dinâmicas nuançadas e expressiva precisão, que usa o jazz mais como cenário do que como uma sensibilidade reinante.

De muitas formas, Salvant é, primeiro, uma atriz. Ela sabe que atores são dependentes dos seus papeis e que, para ela, a canção é o papel. Ela escolhe cuidadosamente, às vezes inesperadamente, apesar de nem sempre com sucesso. Seu repertório mistura a segurança do familiar com os riscos da obscuridade. Sim, explorando o passado de joias esquecidas, que podem ser provocativas e uma jornada recompensadora. Porém, também ensina, mais frequentemente que não, que há razões para obscuridade. Boas músicas deslizam para as sombras de todos os tipos de razões, mais claras em retrospecto. “Trouble Is A Man” de Alec Wilder sente-se como um poema carinhoso cuja música parece uma reflexão tardia. “Wild Is Love” foi uma natimorta de um álbum de 1960 de Nat “King” Cole, e apos uma dúzia de finas vocalistas falharem em ressucitá-la. E “Ever Since The One I Love’s Been Gone” nunca cresce completamente a partir do drama meticulosamente contornado que Salvant derrama, embora sua ponte sugere “Come Sunday” de Duke Ellington.

No meio do programa, majoritariamente, duetos, o pianista Sullivan Fortner espelha a dramática projeção de Salvant. Sua habilidade para a extravagância pode mover-se de forma espiralada dentro de crescendos de floreios rapsódicos. Porém, ele também aprecia os contrastes. Ele desliza dentro e fora do tempo em solo longo em “Sweetest Songs”, que é tão esperto quanto penetrante. Ele também pode lançar um sólido mergulho no stride (NT: andar com passos largos) (“By Myself”) ou um pouco de equilíbrio de Teddy Wilson (“Everything I’ve Got Belongs To You”), quando a ocasião autoriza.

Todavia, Salvant faz você ouví-la. A autoridade das suas performances compelem os ouvintes a apreciar sua confiança no material, mesmo quando está frágil ou não familiar. Seu alcance vocal e elasticidade claramente são feitos com material jazzísticos, mas, por enquanto, é assunto para outra gravação. Aqui, o espaço vem a ser um teatro intimista. Estranhamente, ainda que, o clímax do álbum seja um standard do jazz — “The Peacocks”de Jimmy Rowles interpretado em longo e lento murmúrio, que vem a ser quase espectral, quando o tenor de Melissa Aldana, adejante no passado, em fortíssimas convergências.

Faixas: Visions; One Step Ahead; By Myself; The Sweetest Sounds; Ever Since The One I Love’s Been Gone: À Clef; Obsession; Wild Is Love; J’ai L’Cafard; Somewhere; The Gentleman Is A Dope; Trouble Is A Man; Were Thine That Special Face; I’ve Got Your Number; Tell Me Why; Everything I’ve Got Belongs To You; The Peacocks. (70:23)

Músicos: Cécile McLorin Salvant, vocal; Sullivan Fortner, piano, órgão; Melissa Aldana, saxofone tenor (17).

Fonte:  John McDonough (DownBeat)  

Nenhum comentário: