O
contrabaixista Zé Almeida (Nascido em 1999) tem-se afirmado na cena jazz
nacional espalhando talento entre múltiplos projetos e colaborações. É um dos
esteios do grupo Apophenia, quarteto liderado por João Gato que estreou a sua
discografia com o excelente “Prötzeler”; Almeida é também um dos três pilares
do trio ASA, com José Soares e Diogo Alexandre, que prepara a edição de disco e
já atuou com o pianista belga Bram De Looze. Em paralelo, o contrabaixista tem
tocado com a banda Kumpania Algazarra e vem colaborando com diversos projetos
de músicos da sua geração, como Duarte Ventura, Bruno Margalho, Miguel Valente
e Nazaré da Silva e com Nazaré e João Gato formam o trio Não Confundir Com.
Atuou recentemente num novo trio com Margaux Oswald e João Valinho, nas
Timbuktu Sessions. E integra o “quarteto português” do saxofonista
norte-americano John O’Gallagher, que editou em maio o disco “Beast”
(Whirlwind).
Agora, Zé
Almeida apresenta-se na condição de líder com um disco (ou EP) de música muito
original. O grupo Analogik, formado no final do ano passado, é antes de mais nada
um quarteto de configuração instrumental pouco habitual: ao contrabaixo de
Almeida juntam-se voz (Mariana Dionísio), violoncelo (Adèle Viret) e bateria (Samuel
Ber). O disco apresenta apenas três temas, entre os seis e os treze minutos
(com duração total de menos de meia hora). O quarteto parte das composições do
líder, que têm formas bem definidas, para desenvolver cada tema; a partir dessa
estrutura, cada música é ampliada na improvisação. Desde logo, destaca-se
individualmente a amplitude vocal de Mariana Dionísio, que já se afirmou
decisivamente como figura inescapável na cena musical criativa portuguesa
contemporânea, ao leme do seu ensemble vocal LEIDA ou nas suas múltiplas
parcerias. Além de possuir magníficos recursos vocais, Mariana Dionísio sabe
aplicá-los inteligentemente em cada momento, confirmando-se como notável
improvisadora – e poderá confirmá-lo também quem a tenha visto em duo com João
Pereira (Tracapangã) ou Pedro Branco (numa memorável atuação na Água Ardente).
O violoncelo de Adèle Viret assume centralidade ao acrescentar uma carga camerística
e dramática (e mostra-se impecável em “Mother Dust” e nos seus uníssonos). A
bateria do belga Samuel Ber é irrequieta e provocadora, sem perder o eixo
rítmico. O mentor do projeto, Zé Almeida, no contrabaixo, fornece os alicerces
de cada tema; além de ter desenhado as composições, acrescenta densidade em
cada momento. Este grupo de jovens músicos apresenta uma música mutante, em
permanente evolução, um constante desafio para o ouvinte. Este projeto será
particularmente interessante de assistir ao vivo, para acompanharmos a sua
impressionante dinâmica a ser desenvolvia em tempo real.
Faixas
1.Zé Almeida - Through 05:56
2.Zé Almeida - Mother Dust 12:53
3.Zé Almeida - Sístole 09:12
Músicos: Zé
Almeida— contrabaixo, composição; Mariana Dionísio— voz; Adèle Viret—
violoncelo; Samuel Ber— bateria.
Fonte: Nuno
Catarino (jazz.pt)
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